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domingo, 20 de abril de 2014

Galeano fala sobre Literatura e Política (Cynara Menezes)

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Em entrevista na Bienal do Livro de Brasília, ele debate esquerda (no poder e nas letras…), futebol, idade, câncer e… Mujica!

Por Cynara Menezes, em Socialista Morena

Em 1998, entrevistei a escritora Rachel de Queiroz (1910-2003) e ela me confessou sentir “antipatia mortal” por O Quinze, o clássico da literatura brasileira que publicou aos 20 anos, em 1930, e que, desde então, seria sua “obra mais importante e mais popular” (tudo quanto é enciclopédia se refere assim ao livro). O mesmo acontece com As Veias Abertas da América Latina e o escritor uruguaio Eduardo Galeano.  Publicado em 1971, quando Galeano tinha 30 anos, a obra até hoje o persegue. É sempre nomeado como “o autor de As Veias Abertas…“, o que, pelo visto, o incomoda –mesmo porque tem mais de 30 livros além dele.

Na entrevista coletiva que deu na sexta-feira 11 em Brasília, onde veio para ser o escritor homenageado da 2ª Bienal do Livro e da Leitura, Galeano ouviu provavelmente a milionésima pergunta sobre Veias Abertas. “Faz 40 anos que você escreveu As Veias Abertas da América Latina. Quais são as veias abertas hoje em dia?” E ele, em um português bastante razoável: “Seria para mim impossível responder a uma pergunta assim, especialmente porque, depois de tantos anos, não me sinto tão ligado a esse livro como quando o escrevi. O tempo passou, comecei a tentar outras coisas, a me aproximar mais à realidade humana em geral e em especial à economia política – porque As Veias Abertas tentou ser um livro de economia política, só que eu ainda não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas é uma etapa superada. Eu não seria capaz de ler de novo esse livro, cairia desmaiado. Para mim essa prosa de esquerda tradicional é chatíssima. O meu físico não aguentaria. Seria internado no pronto-socorro… ‘Tem alguma cama livre?’, perguntaria.” Risadas.

Aproveito e emendo: mas o que você achou de Chávez dar o livro para o Obama? Obama entenderia As Veias Abertas…? “Nem Obama nem Chávez”, responde Galeano para gargalhada geral. “Claro, porque ele entregou a Obama com a melhor intenção do mundo – Chávez era um santo, cara mais bondoso que esse eu não conheci –, mas deu de presente a Obama um livro em uma língua que ele não conhece. Então, foi um gesto generoso, mas um pouco cruel.”

Eu nunca tinha visto o grande escritor uruguaio de perto. É mais baixo do que imaginava, cerca de 1m70. Bastante frágil, aparenta ter mais do que seus 73 anos. Ele mesmo comenta que a maioria dos escritores é de esquerda e, como tal, chegados a uma boemia e isso não faz bem à saúde… Uma menina pergunta: “A idade não é boa para os jogadores de futebol. E para os escritores?” Galeano discorda. “Depende. Tem velhos muito mais jovens que os velhos velhíssimos e tem velhos que você acha que estão esperando a morte e surpreendentemente acabam ganhando uma partida por 8 a zero. Não depende da biologia nem do prognóstico dos profetas. Não depende de ninguém. O melhor que o futebol tem como esporte – a festa que o futebol é, a festa das pernas que jogam, a festa dos olhos – é a capacidade de surpresa, de assombro. Na verdade ninguém sabe o que vai acontecer. E menos ainda os especialistas. Aqueles doutores do futebol são seres temíveis, perigosíssimos para a sociedade e o mundo em geral.”

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Outro jornalista espeta: “Por que a esquerda não deu certo na América Latina?” Galeano não se faz de rogado: “Algumas vezes deu certo, algumas vezes, não. A realidade é mutável, a realidade política e todas as outras –por sorte. Senão seríamos estátuas, estaríamos congelados no tempo. Não é verdade que a esquerda não deu certo. Deu certo e muitas vezes foi demolida por ter dado certo, por ter tido razão, porque o que a esquerda predicou, em certo momento na América Latina, resultou ser a verdade, então foi punida. Punida pelos golpes de Estado, ditaduras militares, períodos prolongadíssimos de terror de Estado, crimes horrorosos cometidos em nome da paz social, do progresso. Da convivência democrática, imaginem! Que democracia e que convivência são essas? Tinham que perguntar: ‘do que está falando, senhor?’ As coisas são muito mais complexas do que parecem. Em alguns períodos, também, a esquerda comete erros gravíssimos e em outros, não, faz o que deve ser feito da melhor maneira, até além do que o próprio movimento de massas estava esperando. A realidade sempre tem esse poder de surpresa. Te surpreende com a resposta que dá a perguntas nunca formuladas. E que são as mais tentadoras. O grande estímulo para a vida está aí, na capacidade de adivinhar possíveis perguntas não formuladas.”

Galeano está cansado, foram muitas horas de viagem para chegar à capital federal, e quer encerrar a entrevista. Eu protesto: “Mas e Mujica? Você não vai falar de Mujica?” Ele não resiste e se senta de novo. “Estou meio cansado, estou fatigado de falar de Mujica, porque todo mundo fala dele! Até em outros planetas se fala de Mujica. Em Marte, Júpiter… É incrível a capacidade de ressonância que Mujica tem. E ele é muito meu amigo, já faz muitos anos. A única coisa que posso fazer para incorporar um grão de areia a esta praia imensa de Mujica caminhando pelo mundo seria contar uma piccola história que dá ideia da qualidade humana do personagem.”

E começou a narrar, saborosamente, como é de seu feitio:

“Faz uns quatro anos –não tenho interesse em lembrar direito a data– fui operado de câncer. Foi um câncer sério, agudo. Tomei uma anestesia muito forte, dessas que não desaparecem rápido. E estava sozinho na cama do hospital, esperando que passasse o efeito da anestesia. Ou seja, mais dormido do que acordado. Sem saber muito o que acontecia, onde estava, delirando. E neste período, estando sozinho em uma cama –sozinho, não, acompanhado pelo câncer, mas o câncer não é um amigo confiável. Não te recomendo. Bem, estava eu ali e volta e meia delirava. Como sou muito futeboleiro, um religioso da bola, tinha delírios futebolistas que me levaram aos anos de infância, quando jogava na rua, com bolas improvisadas, feitas com trapos velhos. E em uma dessas fugas, comecei a bater bola. Como se fosse uma múmia egípcia que tinha errado de domicílio, jogando futebol contra ninguém e sem bola nenhuma, só na imaginação. Chutava a bola e ela voltava, chutava e ela voltava. Tudo debaixo do lençol. E nada, a bola continuava, como se estivesse morta de riso da minha estupidez de achar que podia com ela. ‘Não, você não pode comigo’. Numa dessas, senti um peso em cima dos meus joelhos. Aí começo a recobrar a realidade e vejo alguém que conheço, uma voz que reconheço, de um amigo. E pergunto:

–O que você está fazendo aqui?

E ele:

–Isso é maneira de receber um amigo?

–Não importa, quero saber o que você faz aqui. Está doente também?

–Que é isso, estou saudabilíssimo. O enfermo é você.

–Estou sabendo. Obrigado pela notícia, mas já estou sabendo.

–O doente é você, está fodido, irmão. Eu vim te visitar. Agora, não sabia que se recebia um amigo assim, chutando-o, chutando-o e chutando-o. Não é muito educado.

Continuamos nessa até que eu falei:

–Olhe, chega. Sua função não é estar aqui brincando comigo. Você é o presidente da Repoública e sua função é governar. Mujica, você é o presidente! Vai governar este país já! Estamos precisando de sua participação ativa, desinteressada, importantíssima para o nosso povo. Não perca mais tempo comigo.

–Ah, bela maneira de ser amigo, hein?

–Será bela ou será feia, mas é a única maneira para você. Você é o presidente! Além disso, para piorar, todo mundo gosta de você e quer que continue sendo presidente por uns 300 anos mais. Se você não gosta, foda-se.

E aí acabou.”

Na saída, consigo falar a Eduardo Galeano do enorme prazer que sinto em conhecê-lo pessoalmente e lhe conto que adoro O Livro dos Abraços. Ele olha para mim e diz: “Eu também”.

Ufa.

(Disponível em: http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=17176)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Livros: a aventura da autopublicação (Daniel Cariello)

Feira Plana, evento de venda de livros, fanzines e impressos independentes que acontece anualmente em São Paulo
Feira Plana, evento de venda de publicações independentes que acontece anualmente em São Paulo


Como quatro autores criaram selo editorial alternativo, lançaram suas obras sem intermediários, tiveram êxito e podem ser seguidos por gente como você

Por Daniel Cariello

Em 2007, fui morar na França. Meu francês se limitava a “croissant” e “quatre-vingt”, que significa “oitenta” e eu conhecia porque achava muito estranho eles dizerem “quatro vinte”, fazendo conta para falar um número. As descobertas iniciais na nova casa foram tão intensas que criei o site Chéri à Paris, no qual postava crônicas semanais sobre a vida de um brasileiro na terra do fromage. Logo elas passaram a ser republicadas por veículos como Outras Palavras, Le Monde Diplomatique online, Magazine Brazuca (em Paris) e UOL.

CHERIPARIS_Capa_F02.inddUm ano depois, recebi e-mail de uma editora: “Adoramos seus textos. Avise-nos se quiser lançá-los em livro”. Claro que queria, era o meu sonho! Respondi na hora e já passamos à discussão de detalhes do contrato. A dona da instituição me confessou ser apaixonada por tudo o que diz respeito à França. Desconfio que era também interessada por druidas e suas magias, pois, assim como apareceu do nada, sumiu pouco tempo depois, sem deixar vestígios. Verdadeira Panoramix moderna.

Se a poção mágica de sumiço que ela tomou me deixou triste por um lado, por outro me motivou a fazer um projeto enviá-lo a editoras, escritores, críticos e a todo mundo que tivesse alguma relação com o mercado editorial. O que não sabia, no entanto, é que aquela recusa era apenas a primeira de uma longa série de “não, obrigado”, “não há interesse por crônicas”, “não há planos de novos lançamentos esse ano” e diversas outras variações introduzidas pelo monossílabo de negação. Cansado, quase desisti de publicar o Chéri à Paris.

Autopublicação?

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“Daniel, você precisa lançar um livro”, dizia a lacônica mensagem que recebi às 23h de uma terça-feira vulgar de setembro do ano passado, enviada pelo amigo e escritor Yury Hermuche. De bate pronto, devolvi o desafio. “Ok, mas só se você também escrever um e lançarmos juntos”. Ele topou. E aí me dei conta de que não tínhamos editora. E eu não sentia nenhuma vontade de correr atrás novamente. “Pra quê?”, ele perguntou. “Autopublicação. Você vai ser seu próprio editor. E a tiragem se paga rapidamente, você vai ver”.

A rua de todo mundo - Carolina NogueiraA ideia de convidar as amigas Carolina Nogueira e Gabriela Goulart Mora a participarem com a gente foi natural. Achei que tinha tudo a ver elas colocarem no papel um pouco de suas experiências distantes: Carolina, em Paris; Gabriela, na Índia. Terminamos os quatro livros no tempo recorde de dois meses. E decidimos criar um selo para reuni-los. Afinal, se a amizade nos unia, a temática dos livros (distância, estranhamento e viagens) também nos era comum.

O selo Longe já nasceu com os genes da independência e da autopublicação, bem explícitos no manifesto publicado em nosso site: “Com todo respeito ao mercado editorial, (…) nosso negócio é outro. Queremos escrever livros, contar nossas histórias, compartilhar nosso universo – e queremos ser lidos. Só isso”. E continuamos: “Aliás, o gosto pelo papel também tem a ver com a decisão. Escolher a gramatura, a textura da folha que vai receber nossas ideias, a fonte com que serão compostas páginas (…) – por que diabos delegaríamos tudo isso a outra pessoa?”

Anti-heróis e aspirinas - Yury HermucheMas funciona?

E muito. A noite de lançamento do Longe reuniu mais de 1.000 pessoas no Cine Brasília, o cinema mais tradicional da cidade. Ali, vendemos 700 livros e praticamente pagamos as tiragens. Depois, como não temos distribuidora, criamos sites individuais e um coletivo, para o selo, onde os livros estão à venda. E firmamos parcerias com diversos pontos de comercialização, dentro e fora de Brasília.
O reconhecimento veio ainda de outras maneiras. Toda a mídia local escreveu sobre o Longe, assim como diversos veículos nacionais. Além disso, A Rua de Todo Mundo, da Carolina, foi escolhido para ser oficialmente lançado pela II Bienal do Livro e da Leitura, que ocorre em abril, em Brasília; Anti-heróis e Aspirinas, do Yury, teve mais de 100 mil downloads de seu e-book em inglês e de sua trilha sonora; e Depois das Monções, da Gabriela, ficou entre os 20 mais vendidos da loja Amazon, em março.

Já o Chéri à Paris foi destaque em veículos como Folha de S. Paulo, Estado de Minas, Diário de Pernambuco, Educar para Crescer, Rádio Senado e CBN. O e-book, que eu mesmo formatei e publiquei, foi duas vezes o mais vendido da loja Amazon. Entre livros físicos e digitais, Chéri já vendeu mais de 1,2 mil cópias em pouco mais de 3 meses, o que é um feito considerável para o mercado editorial tradicional. E quase heróico para o independente.

Depois das monções - Gabriela GoulartA iniciativa vem sendo tão bem sucedida que autores que antes apostavam na publicação tradicional, via editora e distribuidora, já estão nos contactando. A autopublicação é um caminho sem volta. E que vai longe.

Conheça:

Chéri à Paris – www.cheriaparis.com.br

Selo Longe – www.muitolonge.com.br


(Disponível em: http://outraspalavras.net/destaques/livros-a-aventura-da-auto-publicacao/)

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Uma nova literatura, menos brasileira? (Luisa Frey)

Menos ligados à identidade nacional, novos autores escrevem sobre temas globais. Representarão o Brasil na Feira de Frankfurt, este mês

Por Luisa Frey no DeutscheWelle

“Cresciam as roças de cacau, estendendo-se por todo o sul da Bahia, esperavam as chuvas indispensáveis ao desenvolvimento dos frutos acabados de nascer, substituindo as flores nos cacauais”, descrevia Jorge Amado em Gabriela, cravo e canela, de 1958. “O trânsito fica horrível, a cidade, esse caos que está hoje, e além do mais eu acabo sempre perdendo o guarda-chuva”, escreveu Carola Saavedra quase 50 anos depois, em Toda Terça, de 2007.

A realidade brasileira mudou nas últimas décadas, e isso se reflete na literatura. Apesar da variedade de temas em meio a um país mais industrializado e globalizado, é possível apontar algumas tendências na atual geração de escritores. Se antes predominava um ambiente rural ou tropical, hoje as histórias se passam num Brasil urbano ou até mesmo fora de um cenário brasileiro identificável. Os jovens autores são menos preocupados com a identidade nacional.

“Por muitos anos, essa identidade foi definida como um retorno ao campo ou ao Brasil ‘autêntico’”, diz o prefácio da edição O melhor dos jovens romancistas brasileiros da revista literária britânica Granta, de 2012. Já os escritores de hoje, “filhos de uma nação mais próspera e aberta, são cidadãos do mundo tanto quanto são brasileiros”.

A Granta publicou trechos de 20 jovens autores, como Saavedra, Daniel Galera e Michel Laub. Estes e outros novos nomes figuram entre os 70 escritores que representarão o Brasil na Feira de Frankfurt deste ano. O equilíbrio entre autores consagrados e os da nova geração foi um dos critérios de escolha, afirma o crítico literário Manuel da Costa Pinto, um dos três responsáveis pela seleção.

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Carola Saavedra é um dos jovens nomes que representarão o Brasil na Feira de Frankfurt
Costa Pinto aponta que, a partir da década de 1970, é difícil falar em homogeneidade na literatura brasileira, e o recorte geracional passou a ser simplesmente temporal. Mas ele reconhece a recorrência da temática urbana.

“Existe uma tendência de se falar da experiência do indivíduo urbano, culto, de classe média, envolto com questões subjetivas e pessoais, mas tendo como pano de fundo – mais ou menos – a questão brasileira”, diz.

A professora e crítica literária Beatriz Resende, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também aponta “uma recusa do tema nação”. Assuntos como corrupção, violência e democracia podem aparecer, mas dispersos pelo cotidiano urbano. Como diz Costa Pinto, o foco não está no aspecto social e histórico brasileiro, e a narrativa se volta para questões “intrinsecamente pessoais do escritor”.

Autoficção, rasura do real e política

Esse olhar voltado para si mesmo resulta em mais uma característica nos escritos da nova geração: a chamada autoficcção – ou seja, a ficcionalização da própria vida. É o caso da obra Filho eterno, em que Cristóvão Tezza romanceia a experiência como pai de um portador da síndrome de Down, ou de Diário da queda, em que Michel Laub mistura vida pessoal e a sua origem judaica com elementos de ficção.

Resende identifica ainda a tendência de “rasura do real”, ou seja, “desrealizar a narrativa realista”. Ela aponta como exemplo o drama íntimo e familiar de Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera. “Numa narrativa formalmente realista até então, entra o horror, a figura tétrica do avô que deveria estar morto”, aponta a especialista.


Michel Laub é exemplo de autor que mistura ficção e elementos autobiográficos
Menos realista e mais ensimesmada, poderia-se pensar que a literatura contemporânea também é menos politizada. A geração atual está, de fato, menos interessada do que a anterior em questões explicitamente políticas, como desigualdade social e ideologia. Os escritores mais jovens eram muito novos quando a ditadura militar chegou ao fim, nos anos 1980, e a luta pela liberdade tomou conta da sociedade brasileira.

Mas, como destaca o crítico literário Miguel Conde, “a força política de um texto literário não depende do enredo”. Escrever sobre política não é mais falar explicitamente sobre ideologia, mas sim tratar de questões do cotidiano, como o papel da mulher na sociedade ou o cotidiano na cidades, concorda Resende. Um exemplo é o romance Cidade de Deus, de 1997, em que Paulo Lins tematiza o cotidiano violento do bairro carioca homônimo a partir da própria experiência como morador.

Profissionalização e globalização

Se quanto aos temas ainda é possível identificar tendências na nada homogênea geração atual, em termos formais e estilísticos há menos variáveis comuns. Um aspecto recorrente é a escrita em primeira pessoa, como aponta o escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, professor de literatura da PUC-RS. “Os jovens hoje, de uma maneira esmagadora, falam na primeira pessoa.”


Luiz Ruffato deixou o jornalismo para dedicar-se à literatura
Um consenso entre os especialistas é que os escritores brasileiros estão se profissionalizando. “Escritor nunca havia sido profissão no Brasil”, diz Resende. Era preciso exercer outra atividade para ganhar a vida. Hoje, cada vez mais autores buscam viver da literatura. É o caso de Saavedra, que se diz “escritora em 100% do tempo”, e de Luiz Ruffato, que deixou o jornalismo para dedicar-se somente à literatura.

Além disso, Conde aponta que hoje o autor atua como um “vendedor do próprio texto”, percorrendo eventos literários, como a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), e participando de redes sociais para divulgar seu trabalho.

Assis Brasil vê também uma busca incessante pela qualidade do texto – algo que se perdeu a partir do Modernismo. “Percebo o quanto os jovens escritores querem ser competentes. Escrevem, reescrevem e reescrevem”, afirma o escritor, que ministra uma das mais famosas oficinas de escrita literária do Brasil.

Com escritores mais preparados e uma literatura madura – capaz de falar de qualquer tema –, o Brasil tem maior chance de projetar sua produção literária no mundo globalizado. A temática urbana também torna os escritos brasileiros mais universais, já que a cidade funciona como “uma rede mundial de problemas comuns”, como define Costa Pinto.

Assis Brasil ressalta que a literatura brasileira atual poderia ser assinada por qualquer escritor de qualquer parte do mundo. “É uma literatura com uma temática sintonizada com todas as literaturas de grande produção”, completa Resende.
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