"Em todas as lágrimas há uma esperança."
- Simone de Beauvoir
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
sábado, 16 de novembro de 2013
A melancolia fora de lugar (Arlindenor Pedro)

Por Arlindenor Pedro | Imagem: Albrecht Dürer, Melancolia
Refletir, pensar, saber o porquê: eis uma das características marcantes dos seres humanos – que se acentua em alguns, noutros menos.
Sentir, provar, viver intensamente o que se apresenta, eis outra característica que também se acentua em uns, em outros não tanto.
Ser melancólico e saber o que é melancolia, creio, sempre acompanhou o homem em sua trajetória pela terra. Melancolia, então, tornou- se um grande enigma: por uns vivido, por outros pretensamente desvendado.
Embora presente em todas as culturas, foi entre os gregos da Antiguidade que se destacou a sua racionalização, ou seja, a real compreensão do que poderia ser. Em Aristóteles conseguimos ter sua sistematizacão, que chegou até nós após ter influenciado várias sociedades. Ele faz uma clara associação entre melancolia e criatividade.
“Por que razão todos os que foram homens de exceção, no que concerne à filosofia, à ciência do Estado, à poesia ou às artes são manifestamente melancólicos, e alguns a ponto de serem tomados por males dos quais a bile negra é a origem (…)?” (Aristóteles, “O Problema XXX”).
Talvez guiados por essa pergunta, artistas procuraram retratar tal comportamento, cientistas buscaram suas causas e, naturalmente, melancólicos trataram de vivê-la na sua intensidade, como na Renascença e no Romantismo, quando era “doença bem-vinda”, pois enriquecia a alma.
Provavelmente a gravura Mellancolia, de Albrecht Dürer, produzida nesse período, seja a obra mais conhecida sobre o tema, atravessando os tempos e nos colocando frente a frente com tal enigma.
No nascimento da era industrial, com o texto Luto e Melancolia, de Freud, parece que nos aproximamos mais do momento de desvendá-la. Para Freud, a melancolia é um estado emocional semelhante ao processo de luto – semelhante, não igual, pois não há a perda que o caracteriza. A melancolia pode ocorrer sem causa definida (sic).
Mas, na sociedade moderna, principalmente na contemporaneidade, constatamos que a melancolia não é mais bem-vinda, pois se choca com o espírito hedonista necessário a um “bem-viver” e a uma padronização normótica.
No início do século XX, Edward Bernays, sobrinho de Freud que vivia nos Estados Unidos, apropriou-se dos estudos do renomado cientista – que via no interior da mente humana áreas ainda não conhecidas, a que chamou de inconsciente, onde existiriam forças que moldavam seu comportamento. Observou, então, que essas forças podiam ser controladas e desenvolveu, através de técnicas da psicanálise e de conselhos de seu tio, mecanismos que pudessem induzir ao consumo de bens, mesmo que desnecessários ao pretenso consumidor.
Em Bernays vemos a gênese do que foram as técnicas de propaganda e controle da mente que deram à humanidade tanto as grandes ações de propaganda do nazi-fascismo e do “socialismo real” da terceira internacional, quanto o desenvolvimento das campanhas de massa do agressivo capitalismo norte-americano. Aquilo que Guy Debord chamou de “espetáculo concentrado”, contido nas sociedades totalitárias e no “espetáculo difuso das sociedades ditas democráticas (“A Sociedade do Espetáculo”).
Após apropriar-se da força de trabalho do homem o capital parte, então, através das técnicas de propaganda (das quais Bernays é pioneiro), para o controle e a manipulação do que poderiam ser seus gostos, sentimentos, desejos… enfim: da sua alma.
É por demais conhecido o estudo de caso da campanha de marketing criada por Bernays no início do século passado, que levou as mulheres americanas a fumar em público (coisa até então inimaginável) .
Ocorre, então, que a melancolia se apresenta como necessária de ser controlada, por todos os meios disponíveis criados pela psicologia, pela psicanálise e pela psiquiatria.
No mundo racional, em que tudo é previsível, a melancolia não tem lugar. Tem que ser substituída por atitudes que todos julguem ter sob controle. As emoções serão então contidas, dando lugar a relações humanas totalmente reificadas.
Mas será que esse controle se dá na sua totalidade? Ou, deve a humanidade reagir a tal desígnio, traçado por um sistema sem sujeitos? Mais ainda: a melancolia deve ser extirpada e tratada como uma doença hostil ao homem?
Na ação concreta da obra de arte, o artista exercita claramente a sua liberdade livrando-se das amarras a ele impostas. A obra que apresenta ao mundo, e que a partir daí não mais lhe pertencerá, torna-se um instrumento de libertação, que cada um viverá de acordo com seu senso estético, suas considerações. Tocar a sensibilidade, chegar até a alma – eis aí o caminho do artista.
No filme Melancolia, o cineasta dinamarquês Lars Von Trier nos coloca diante da temática da euforia e do sofrimento através de um filme em que não existe saída, e o final não é feliz. Tenta dessa forma tocar a nossa alma com um tema sobre o qual, no passado, debruçaram-se tantos pensadores.
Trata-se de um filme de atmosfera especial, cheio de simbolismos. O espectador escolherá sua identificação com os personagens, numa situação-limite de fim próximo – não o fim de um ser, individualmente, mas da totalidade do mundo onde vivemos, com suas cidades, florestas, animais etc.
Vemos então o embate entre os diversos personagens, com sua postura perante o mundo, destacando-se a relação entre duas irmãs com visões diametralmente opostas perante a vida e o fim que se aproxima.
Para horror de muitos, Von Trier nos faz refletir sobre a morte (no sentido da extinção da espécie) e o sofrimento, que tanto queremos afastar de nós. Apresenta-nos um planeta com uma trajetória de colisão determinada, sem possibilidade de mudanças: o que fazer em um momento que não há nada a fazer?
Diante do desespero de sua irmã, Justine, a personagem afetada pela melancolia, vê como perfeitamente lógico o desfechar trágico de suas vidas. Como se fosse o esperado: afinal, não fará nenhuma diferença no Universo!
Trazendo este tema para reflexão, Von Trier nos mostra a sensibilidade dos melancólicos e o seu desajuste em relação ao mundo real. E ao mesmo tempo a necessidade de equilibrar razão e sentimento, em um mundo onde o deus da razão reina absoluto, afastando os sentimentos dionisíacos da humanidade.
Talvez não estejam errados os que veem no planeta, denominado Melancolia no filme, e que irá chocar-se com a Terra, uma alusão aos perigos que rondam a nossa e outras espécies em um mundo erigido pelo capitalismo, com sua devastação ambiental. Salta aos olhos de todos que o planeta está em perigo. E, nesse sentido, os melancólicos são mais conhecedores do perigo que corremos .
Não restam dúvidas de que o homem contemporâneo, aprisionado por um sistema que não lhe permite ver a totalidade do mundo em que vive, tornou-se limitado e regrediu na sua capacidade de observar e sentir a realidade. Muito por ter combatido e afastado a melancolia de sua existência, tornou pobre a sua alma – ao contrário do homem da Renascença e do Romantismo, este um ser mais completo por não temer essa forma de ser.
(Disponível em: http://outraspalavras.net/destaques/a-melancolia-fora-de-lugar/)
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Liev Tolstoi - Religião
"O homem pode ignorar que tem uma religião, como pode também ignorar que tem um coração; mas sem religião e sem coração, não pode viver."
Liev Tolstoi
Liev Tolstoi
A Mentira e a Verdade
Só há uma certeza na mentira: ela será descoberta.
A ordem natural é o despertar para a verdade.
A ordem natural é o despertar para a verdade.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
A Vida, A Humanidade, A Medicina e Eu
Pode soar banal o que irei abordar em minha crônica hoje, mas é incrível como das banalidades surgem reflexões interessantes.
Hoje sofri minha primeira reprovação importante na faculdade.
Vim no ônibus pensando no que isso representa em minha vida, depois de ter conversado com o professor do módulo sobre isso. Veio-me à mente questões importantes as quais o docente suscitou e muitas outras, coisas da minha cabeça.
Será que é a Medicina mesmo minha futura profissão?
Não sei. Se nem tenho certeza se realmente existo ou qual a natureza de minha existência, por que eu deveria saber isso? Por que eu deveria saber se fiz a escolha correta? O que sei, e disto tenho certeza, é que essa escolha tem me propiciado experiências de desafio, frustrações, conquistas. Tenho plena consciência de que, muito além da aquisição de conhecimentos e habilidades, essa formação está me construindo como sujeito, meu caráter, minha forma de relacionar-me. Tenho a impressão de que não importa a profissão em que eu esteja, a escolha que eu faça, em qualquer lugar eu vou conseguir essa construção pessoal e como isso é um dos fatores que mais pesam em minha escolha, tanto faz eu estar na Medicina ou em qualquer outro curso.
Outro fator que pesa muito é a minha participação na transformação social. Apesar de várias mágoas e desencantos com a sociedade, há algo muito forte dentro de minha mente: ser útil. E utilidade, para mim, é servir à formação de um novo modelo de sociedade, baseado em justiça social. Esse ponto me aproximou muito da Medicina quando conheci o funcionamento do SUS e o novo conceito ampliado de saúde. O controle social e a capacidade de agir na mudança da comunidade pela atenção primária é algo que me fascina, é um desejo que faz meu coração bater mais forte.
No entanto, há um significativo fator limitante: meu estilo de vida. Prezo pela minha saúde, em todos os sentidos. E eu possuo uma tendência a ter um relógio biológico um pouco diferente das outras pessoas: tendo a adormecer mais tarde e a despertar no final da manhã. E é uma tortura para mim - realmente uma tortura, acredite - acordar cedo. Em, minha faculdade, as aulas iniciam às 7h30, que vão até 11h50 e se cursar a fase completa continua das 13h30 às 17h10 - todos os dias úteis. Ainda há o tempo para o estudo sozinho, para desenvolver projetos (pesquisa, extensão) e sobra muito pouco para outras coisas que eu necessito: alimentação saudável, exercício físico, sono de qualidade. E Política.
Tenho um prazer quase que intrínseco por Política. Parece que nasci gostando. Eu amo tudo que advém das ciências sociais, me encanta entender e viver os relacionamentos interpessoais, as construções como indivíduo e sociedade. E daí surge outro fator que acarreta dúvidas quanto minha escolha profissional. Será que eu não devia ter escolhido Ciências Sociais? Psicologia? Filosofia?
Pode parecer estranho, mas o que me motivou a escolher Medicina, e não essas profissões foi a humanidade. Eis um motivo que me levou a descartar Agronomia também, outra área que me interessa. Eu preciso de uma profissão que me deixe em contato constante com humanos, gente, pessoas. Há algo em minha constituição mental que sempre me leva à frieza, objetividade, um perfil ótimo para um pesquisador tradicional ou para um empresário à moda antiga, mas que eu não valorizo. Tenho uma preocupação enorme em perder minha humanidade e dedicar-me a essas áreas sociais me conduziria a ficar preso em uma biblioteca, em meio a livros, teorias, etc., entretanto longe de pessoas. Seria uma excelente forma de eu superar minhas dificuldades, todavia seria uma fuga de minha construção como sujeito e de minha contribuição real à sociedade.
É difícil para mim contar essa história em uma conversa de bar, ou mesmo para meus amigos da faculdade. Não sei se por vergonha, ter medo de parecer um idiota, ou ser mesmo um idiota ou um esquizofrênico, enfim... em meio a banalidades, em palavras constituo minhas reflexões, sem medo do que pensará o leitor, pois nesse momento estamos apenas eu e meu instrumento de redação. O depois é o depois, pois agora sou eu e meus pensamentos, apenas.
Sim, o agora sou eu, pensando em ser ou não médico. Contudo o que é ser médico hoje? Antes da faculdade, para mim, o médico era um "mestre das doenças", e em meus estudos pude conhecer o ser médico "mestre da vida", que ajuda as pessoas a encontrarem formas de viver melhor em uma sociedade e um mundo que a todo instante a ela impõe dificuldades, em doenças que acometem ora seu corpo, mas ora também seu espírito ou mente - ou ambos. E é com a vida que eu me comprometi.
Logo antes de passar no vestibular, eu fiz um ritual próprio, pessoal e íntimo de compromisso com D-us. Eu me comprometi à trabalhar pela vida, pela sua manutenção, criação e aperfeiçoamento. E a vida é dinâmica, a vida está nas ruas, e não dentro das quatro paredes de uma biblioteca, ou de um laboratório. Está também na natureza semi-intacta (já que hoje poucos são os lugares onde o homem não imprimiu o reflexo de sua existência). E isso me remete novamente a ser médico. A Medicina concebida sob o aspecto da comunidade, relaciona-se com tudo: meio ambiente, sociedade, pessoas - e suas mentes, psicologia. E é aí que eu sinto que devo estar, no meio de "tudo", na vida.
Tratei aqui muito de fatores limitantes e fortalecedores internos até agora, mas há questões externas também. Diante de toda a dificuldade que tenho enfrentado em meu curso, imagine abrir o facebook e ver uma "enchente" de imagens e comentários do tipo "médico filho de papai", de que Medicina é vida boa, de que ser médico é ser elite, sem se preocupar com as pessoas, etc. Pode parecer ridículo, mas é desmotivador. Por que estou sofrendo tanto em servir à sociedade, agindo no sentido de possibilitar uma nova forma de relação social e de Medicina, inclusive, enquanto as pessoas menosprezam tanto minha profissão? Sei que há os maus médicos, mas há maus professores, maus engenheiros, há gente boa e ruim em todas as profissões. É desmotivador me esforçar e sofrer tanto para me formar na profissão que todo mundo vê com tanta negatividade generalizada.
O fato é que minha reprovação, realmente, está alicerçada em todos esses fatores. Enquanto tento domesticar meu sono, encontrar um equilíbrio entre o tempo para minhas atividades pessoais e profissionais, há a pressão. Pressão da família para que eu me forme logo e possa ajudar a sustentá-la. Pressão dos professores para que eu resolva logo meus problemas e me torne enfim um "bom aluno". Pressão dos colegas para que eu não seja um vagabundo, ou um perdido, como muitos me veem. Pressão dos amigos pessoais, que desejam compartilhar a vida social comigo, mas não conseguem porque estou muito dedicado à faculdade. E, não menos importante, enfim, minha pressão pessoal em atender a todos esses chamados da sociedade e, ao mesmo tempo, construir algo que defina "quem sou eu", para num futuro próximo resolver a questão de se a Medicina é a escolha correta, de fato, para mim.
Essas reflexões interessantes que surgiram da banalidade me conduzem ao que eu sempre soube, depois de me tornar estudante de Medicina: eu sei que vou sofrer, talvez mais do que já sofro, contudo eu devo persistir. Estou crescendo como nunca antes, estou cada vez mais perto de meus sonhos, de me tornar quem sempre desejei. Talvez no futuro eu venha a optar por uma outra profissão, mas por agora eu sei que estou onde devo estar e devo continuar persistindo, sofrendo se preciso, mas contentar-me felizmente em saber que estou onde devo estar. Posso não me tornar médico num futuro próximo, todavia estou me formando humano, gente. E isso me basta, mesmo que ser humano, hoje, não me garanta estar vivo - no capitalismo, o pão, a água, etc. se compra com o trabalho. No entanto, mesmo assim, me basta ser humano, ainda que um dia isso me custe a vida. Sou e continuarei sendo humano, cada vez mais. E, por agora, sou e continuarei estudante de Medicina. Que assim seja, até que a humanidade nos separe.
Hoje sofri minha primeira reprovação importante na faculdade.
Vim no ônibus pensando no que isso representa em minha vida, depois de ter conversado com o professor do módulo sobre isso. Veio-me à mente questões importantes as quais o docente suscitou e muitas outras, coisas da minha cabeça.
Será que é a Medicina mesmo minha futura profissão?
Não sei. Se nem tenho certeza se realmente existo ou qual a natureza de minha existência, por que eu deveria saber isso? Por que eu deveria saber se fiz a escolha correta? O que sei, e disto tenho certeza, é que essa escolha tem me propiciado experiências de desafio, frustrações, conquistas. Tenho plena consciência de que, muito além da aquisição de conhecimentos e habilidades, essa formação está me construindo como sujeito, meu caráter, minha forma de relacionar-me. Tenho a impressão de que não importa a profissão em que eu esteja, a escolha que eu faça, em qualquer lugar eu vou conseguir essa construção pessoal e como isso é um dos fatores que mais pesam em minha escolha, tanto faz eu estar na Medicina ou em qualquer outro curso.
Outro fator que pesa muito é a minha participação na transformação social. Apesar de várias mágoas e desencantos com a sociedade, há algo muito forte dentro de minha mente: ser útil. E utilidade, para mim, é servir à formação de um novo modelo de sociedade, baseado em justiça social. Esse ponto me aproximou muito da Medicina quando conheci o funcionamento do SUS e o novo conceito ampliado de saúde. O controle social e a capacidade de agir na mudança da comunidade pela atenção primária é algo que me fascina, é um desejo que faz meu coração bater mais forte.
No entanto, há um significativo fator limitante: meu estilo de vida. Prezo pela minha saúde, em todos os sentidos. E eu possuo uma tendência a ter um relógio biológico um pouco diferente das outras pessoas: tendo a adormecer mais tarde e a despertar no final da manhã. E é uma tortura para mim - realmente uma tortura, acredite - acordar cedo. Em, minha faculdade, as aulas iniciam às 7h30, que vão até 11h50 e se cursar a fase completa continua das 13h30 às 17h10 - todos os dias úteis. Ainda há o tempo para o estudo sozinho, para desenvolver projetos (pesquisa, extensão) e sobra muito pouco para outras coisas que eu necessito: alimentação saudável, exercício físico, sono de qualidade. E Política.
Tenho um prazer quase que intrínseco por Política. Parece que nasci gostando. Eu amo tudo que advém das ciências sociais, me encanta entender e viver os relacionamentos interpessoais, as construções como indivíduo e sociedade. E daí surge outro fator que acarreta dúvidas quanto minha escolha profissional. Será que eu não devia ter escolhido Ciências Sociais? Psicologia? Filosofia?
Pode parecer estranho, mas o que me motivou a escolher Medicina, e não essas profissões foi a humanidade. Eis um motivo que me levou a descartar Agronomia também, outra área que me interessa. Eu preciso de uma profissão que me deixe em contato constante com humanos, gente, pessoas. Há algo em minha constituição mental que sempre me leva à frieza, objetividade, um perfil ótimo para um pesquisador tradicional ou para um empresário à moda antiga, mas que eu não valorizo. Tenho uma preocupação enorme em perder minha humanidade e dedicar-me a essas áreas sociais me conduziria a ficar preso em uma biblioteca, em meio a livros, teorias, etc., entretanto longe de pessoas. Seria uma excelente forma de eu superar minhas dificuldades, todavia seria uma fuga de minha construção como sujeito e de minha contribuição real à sociedade.
É difícil para mim contar essa história em uma conversa de bar, ou mesmo para meus amigos da faculdade. Não sei se por vergonha, ter medo de parecer um idiota, ou ser mesmo um idiota ou um esquizofrênico, enfim... em meio a banalidades, em palavras constituo minhas reflexões, sem medo do que pensará o leitor, pois nesse momento estamos apenas eu e meu instrumento de redação. O depois é o depois, pois agora sou eu e meus pensamentos, apenas.
Sim, o agora sou eu, pensando em ser ou não médico. Contudo o que é ser médico hoje? Antes da faculdade, para mim, o médico era um "mestre das doenças", e em meus estudos pude conhecer o ser médico "mestre da vida", que ajuda as pessoas a encontrarem formas de viver melhor em uma sociedade e um mundo que a todo instante a ela impõe dificuldades, em doenças que acometem ora seu corpo, mas ora também seu espírito ou mente - ou ambos. E é com a vida que eu me comprometi.
Logo antes de passar no vestibular, eu fiz um ritual próprio, pessoal e íntimo de compromisso com D-us. Eu me comprometi à trabalhar pela vida, pela sua manutenção, criação e aperfeiçoamento. E a vida é dinâmica, a vida está nas ruas, e não dentro das quatro paredes de uma biblioteca, ou de um laboratório. Está também na natureza semi-intacta (já que hoje poucos são os lugares onde o homem não imprimiu o reflexo de sua existência). E isso me remete novamente a ser médico. A Medicina concebida sob o aspecto da comunidade, relaciona-se com tudo: meio ambiente, sociedade, pessoas - e suas mentes, psicologia. E é aí que eu sinto que devo estar, no meio de "tudo", na vida.
Tratei aqui muito de fatores limitantes e fortalecedores internos até agora, mas há questões externas também. Diante de toda a dificuldade que tenho enfrentado em meu curso, imagine abrir o facebook e ver uma "enchente" de imagens e comentários do tipo "médico filho de papai", de que Medicina é vida boa, de que ser médico é ser elite, sem se preocupar com as pessoas, etc. Pode parecer ridículo, mas é desmotivador. Por que estou sofrendo tanto em servir à sociedade, agindo no sentido de possibilitar uma nova forma de relação social e de Medicina, inclusive, enquanto as pessoas menosprezam tanto minha profissão? Sei que há os maus médicos, mas há maus professores, maus engenheiros, há gente boa e ruim em todas as profissões. É desmotivador me esforçar e sofrer tanto para me formar na profissão que todo mundo vê com tanta negatividade generalizada.
O fato é que minha reprovação, realmente, está alicerçada em todos esses fatores. Enquanto tento domesticar meu sono, encontrar um equilíbrio entre o tempo para minhas atividades pessoais e profissionais, há a pressão. Pressão da família para que eu me forme logo e possa ajudar a sustentá-la. Pressão dos professores para que eu resolva logo meus problemas e me torne enfim um "bom aluno". Pressão dos colegas para que eu não seja um vagabundo, ou um perdido, como muitos me veem. Pressão dos amigos pessoais, que desejam compartilhar a vida social comigo, mas não conseguem porque estou muito dedicado à faculdade. E, não menos importante, enfim, minha pressão pessoal em atender a todos esses chamados da sociedade e, ao mesmo tempo, construir algo que defina "quem sou eu", para num futuro próximo resolver a questão de se a Medicina é a escolha correta, de fato, para mim.
Essas reflexões interessantes que surgiram da banalidade me conduzem ao que eu sempre soube, depois de me tornar estudante de Medicina: eu sei que vou sofrer, talvez mais do que já sofro, contudo eu devo persistir. Estou crescendo como nunca antes, estou cada vez mais perto de meus sonhos, de me tornar quem sempre desejei. Talvez no futuro eu venha a optar por uma outra profissão, mas por agora eu sei que estou onde devo estar e devo continuar persistindo, sofrendo se preciso, mas contentar-me felizmente em saber que estou onde devo estar. Posso não me tornar médico num futuro próximo, todavia estou me formando humano, gente. E isso me basta, mesmo que ser humano, hoje, não me garanta estar vivo - no capitalismo, o pão, a água, etc. se compra com o trabalho. No entanto, mesmo assim, me basta ser humano, ainda que um dia isso me custe a vida. Sou e continuarei sendo humano, cada vez mais. E, por agora, sou e continuarei estudante de Medicina. Que assim seja, até que a humanidade nos separe.
domingo, 30 de junho de 2013
Michelangelo
"Querido para mim é meu sono, ainda mais se de pedra, enquanto o erro e a vergonha ficam: não ver, não sentir, grande sorte para mim."
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Medicina x Biomedicina
Ouvi de um professor do ciclo básico da Medicina da UFSC: "O curso está muito voltado à arte de curar e pouco à ciência e à pesquisa".
Antes fosse realmente voltado à arte de curar! Biomedicina se cursa em biomedicina. Ao curso de medicina, deve-se dedicar o ensino de medicina - a arte de curar.
É um dos grandes problemas do ensino médico no mundo, na realidade - responder ao questionamento "Que médico queremos formar para a sociedade?".
Ainda, com mais experiência e leitura sobre o assunto, dissertarei sobre esse tema. No momento, restrinjo-me ao questionamento.
Antes fosse realmente voltado à arte de curar! Biomedicina se cursa em biomedicina. Ao curso de medicina, deve-se dedicar o ensino de medicina - a arte de curar.
É um dos grandes problemas do ensino médico no mundo, na realidade - responder ao questionamento "Que médico queremos formar para a sociedade?".
Ainda, com mais experiência e leitura sobre o assunto, dissertarei sobre esse tema. No momento, restrinjo-me ao questionamento.
A Inteligência e o Diferente
Não tem coisa mais lamentável do que pessoas que não sabem conviver com o diferente. Pessoas inteligentes aprendem com a diversidade. Pessoas com potencial limitado de crescimento pessoal ou fingem que ela não existe, ou censuram o divergente.
Por isso, não me incomodo: só lamento que certos amigos limitem tanto seu potencial de serem pessoas melhores.
Divagando sobre Aprendizagem
Não há nada mais instigante e poderoso na construção do conhecimento do que a vivência, as experiências pessoais. É a partir dela que surge a curiosidade, o entrosamento com o problema e daí a busca pela informação de valor. Com a curiosidade, com a informação e com a experiência, o indivíduo é capaz de formar o conhecimento valioso para si e muito possivelmente estará pronto para revisitar aquelas experiências anteriores, agora com um novo olhar sobre o problema e - se necessária - uma solução.
Do que depende a felicidade?
Não importa o que acontece ao teu redor: a realidade é tu que fazes. Tudo ao teu redor é próprio, mas quem capta, assimila e reage é tu, tua própria mente. Logo, tua felicidade depende do que? Do que está ao teu redor ou de ti mesmo? :)
Biomedicina
Existe há muito um forte movimento na tentativa de desumanizar a Medicina, caracterizando-a como a biomedicina. No entanto, esse é um modelo falido e insuficiente à integralidade humana. A educação e a prática médica deve contemplar esse ser integral para que realmente o propósito original da Medicina seja cumprido: fazer bem ao doente, sem correr o risco de prejudicá-lo
Interesse
Se todas as pessoas fossem tão interessadas pelos outros como eu sou, o mundo seria um lugar mais agradável, com certeza. Acho vital expandirmos nossos círculos de relacionamentos e dar devida atenção aos já existentes.
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