sábado, 28 de dezembro de 2013

A Medicina e A Política

"Os determinantes primários das doenças são principalmente econômicos e sociais, conseqüentemente, seus remédios também devem ser econômicos e sociais. A medicina e a política não podem nem devem estar separadas uma da outra."
Geoffrey Rose

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Trinta grandes filmes que marcaram 2013 (Bruno Knott)

Nota do blog: Alguém me acompanha nestas férias? :)

Nas telas, conflitos da desigualdade; viagens incomuns; choques culturais; educação em xeque; imigração e xenofobia; tensões entre amor e amizade
Por Bruno Knott, em Obvious
o-som-ao-redor.jpg

O Som ao Redor

Bia é uma dona de casa depressiva cujo sono é interrompido diariamente pelo barulhento cachorro do vizinho. João é um corretor de imóveis que trabalha para o avô, dono de quase todos os apartamentos da região. Clodoaldo é o chefe de um grupo de segurança privada que oferece seus serviços para os moradores da rua. A partir desses três personagens a história se desenvolve, sem pressa e com uma impressionante riqueza de detalhes. Com um olhar clínico, o diretor disseca a rotina e expõe os medos, angústias e preconceitos desse verdadeiro microcosmo da sociedade.
amour.jpg

Amor

Por mais que assistir a Amor seja doloroso, trata-se de uma experiência das mais comoventes e sinceras oferecidas pelo cinema dos dias atuais.
django-livre.jpg

Django Livre

Tarantino é um dos poucos diretores que conseguem fazer da violência puro entretenimento, algo que fica ainda mais evidente aqui. Não é todo dia que uma história de vingança com sangue jorrando de maneira abundante nos faça rir em boa parte do tempo.
o-mestre.jpg

O Mestre

Paul Thomas Anderson nunca trabalha com temas fáceis e O Mestre não é uma exceção. Mesmo com uma temática difícil e pouco convencional, o filme chega a ser hipnótico, algo que se deve à técnica invejável do diretor e também às poderosas atuações do elenco, principalmente Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman.
os-miseraveis.jpg

Os Miseráveis

É um espetáculo vibrante de sons, músicas e cores. Há um certo exagero no melodrama em alguns momentos, mas isso acaba colaborando positivamente para o resultado final deste épico musical, grandioso em todos os sentidos.
a-hora-mais-escura.jpg

A Hora Mais Escura

A Hora Mais Escura mostra os dez anos da difícil busca pelo terrorista Osama Bin Laden. O fato de sabermos como tudo acaba está longe de atrapalhar essa intensa experiência. Ponto para Kathryin Bigelow e para Jessica Chastain.
indomavel-sonhadora.jpg

Indomável Sonhadora

Chega quase a ser um milagre cinematográfico o fato de três ilustres desconhecidos serem os responsáveis por essa bela historia. Acho que isso se chama talento.
na-neblina.jpg

Na Neblina

Dono de um ritmo lento e contemplativo, o filme nos transporta para a Rússia ocupada durante a Segunda Guerra Mundial. Investindo em longas cenas sem cortes e em uma fotografia primorosa, o diretor Sergei Loznitsa escancara a dolorosa realidade daquele povo. Na trama, acompanhamos um partisan desejoso de vingar a morte de seus companheiros. Ele acredita piamente que Sushenya foi o traidor. Com flashbacks reveladores, vamos compreendendo exatamente o que aconteceu.

a-parte-dos-anjos.jpgA Parte dos Anjos

Dirigido por Ken LoachA Parte dos Anjos é uma comédia eficiente que investe em um humor negro de qualidade, além de apresentar situações emocionantes e muitowhisky.
a-caça.jpg

A Caça

Este filme dinamarquês mostra como uma mentira perpetrada por uma criança pode tomar proporções catastróficas. Um dos melhores do ano.
dentro-de-casa-2.jpg

Dentro da Casa

O diretor François Ozon nos oferece uma experiência que foge do lugar-comum, perfeita para aqueles que gostam de literatura e de suas possibilidades.
o-ultimo-elvis.jpg

O Último Elvis

Mesmo com uma atmosfera triste, O Último Elvis reserva alguns momentos divertidos e muitos números musicas de extrema beleza, nos quais o ator estreanteJohn McInerny (cover de Elvis na vida real) nos encanta com sua voz, com direito a versões arrebatadoras de Always On My MindUnchained Melody e I’m So Lonesome I Could Cry. Mais um grande acerto do cinema argentino.
wadja.jpg

O Sonho de Wadjda

Filme divertido, sensível e que parece trazer indícios de que a vida um dia pode melhorar para as mulheres do islã.
monsieur-lazhar.jpg

O Que Traz Boas Novas

Após o suicídio de uma professora de uma escola do Canadá, Bachir Lazhar é contratado e vai ter que lidar com crianças traumatizados e também com regras rígidas que impedem qualquer tipo de aproximação entre professor e aluno.
star-trek-into-darkness.jpg

Além da Escuridão – Star Trek

Temos aqui ação do mais alto nível, com efeitos especiais usados a favor da narrativa e elevando a dose de adrenalina nas horas certas. Capaz de agradar tanto aos fãs como os que não se interessam tanto pela franquia.
antes-da-meia-noite.jpg

Antes da Meia-Noite

Terceiro filme da dupla Ethan Hawke e Julie Delpy que formam novamente o casal Jesse e Céline, adorado por quase todos os cinéfilos. Aqui os diálogos estão ainda mais realistas. Simplesmente, não há como não se envolver.
ferrugem-e-osso.jpg

Ferrugem e Osso

Ferrugem e Osso possui várias cenas poderosas de genuína beleza, principalmente quando o roteiro foca em Stéphanie e nas repercussões do seu trágico acidente.
o-lugar-onde-tudo-termina.jpg

O Lugar Onde Tudo Termina

Uma história forte contada de maneira criativa e ambiciosa. Graças ao roteiro bem escrito, ficamos conhecendo muito bem os personagens principais e sentimos fazer parte de seus dramas.
tabu.jpg

Tabu

Tabu é o inebriante resultado da mistura entre o cinema e a poesia em uma das mais belas línguas do mundo, o português
frances-ha.jpg

Frances Ha

Frances Ha transborda sensibilidade e energia. Uma pequena obra-prima cujo sucesso se deve muito a atriz Greta Gerwig.

las-acacias.jpgLas Acacias

Um caminhoneiro transporta uma mulher desconhecida pelas estradas da América do Sul. Com um ritmo cadenciado e vários momentos de silêncio, o filme nos absorve e nos coloca no lugar destes dois personagens extremamente autênticos.Las Acacias é realista e tocante.
gravidade.jpg

Gravidade

Um espetáculo visual único. Junto com Avatar é a melhor experiência que o cinema 3D já nos ofereceu. Alfonso Cuarón confirma o seu raro talento.
terra-firme.jpg

Terra Firme

O que parecia ser um filme leve com belos cenários naturais sicilianos, transforma-se em um relato contundente sobre imigrantes ilegais que se arriscam diariamente.
os-suspeitos.jpg

Os Suspeitos

Uma história de crime e investigação contada de maneira inteligente e intensa. Lembra um pouco Zodíaco, mas tem vida própria.
o-verda-da-minha-vida.jpg

O Verão da Minha Vida

Aquela velha história do garoto introspectivo que tem uma chance de trazer um pouco de luz para a própria vida. Além da amizade bacana que ele faz com um gerente de um parque aquático, o relacionamento dele com a mãe comove bastante, principalmente no ato final.

capita-phillips.jpg

Capitão Phillips

O diretor Paul Greengrass constrói uma atmosfera de tensão quase insuportável para nos contar a história real de um navio capturado por piratas somalianos. E ainda temos a impecável atuação de Tom Hanks, digna de prêmios.
amor-bandido.jpg

Amor Bandido

Jeff Nichols nos deixa totalmente imersos neste mundo belo e potencialmente perigoso do sul dos Estados Unidos. Com uma direção segura e calma, ele nos apresenta a vários personagens interessantes que ganham vida graças a qualidade dos atores, com destaque para Matthew McConaughey.

blue-caprice.png

Blue Caprice

Aproxime um garoto mentalmente influenciável e dono de uma mira perfeita com um homem com transtorno de personalidade, psicótico, vingativo e a facilidade de se conseguir armas. O resultado está em Blue Caprice. A violência é algo perturbador por si só, mas o que vemos aqui nos faz perder a esperança na humanidade.
somos-o-que-somos-filme.jpg

Somos o que Somos

Graças a um elenco comprometido e a um diretor talentoso, Somos o que Somos torna-se uma interessante e corajosa obra do gênero horror, com boas doses de mistério e de uma violência brutal.
blue-jasmine.jpg

Blue Jasmine

Mais um grande trabalho de Woody Allen. Na trama, acompanhamos a derrocada de uma socialite após a perda do seu marido. Atuação magistral de Cate Blanchett.
* Infelizmente, não pude assistir a Azul É a Cor Mais Quente e Rush, que talvez entrassem para a lista. Na sua opinião, quais filmes estão faltando aqui?

Por que a Suécia está revendo a privatização do ensino

shcool sweden2


Escolas introduziram publicidade maciça, pressão sobre professores e estímulo permanente à competição. Resultados lastimáveis estão levando defensores da “novidade” a pedir desculpas públicas

Na Rede Democrática

Quando uma das maiores empresas privadas de educação faliu, alguns meses atrás, deixou 11 mil alunos a ver navios e fez com que o governo da Suécia repensasse a reforma neoliberal da educação, feita nos moldes da privataria com o Estado financiando a entrega dos serviços públicos aos oligopólios capitalistas e assim causando graves prejuízos para os trabalhadores e a população.

No país de crescimento mais acelerado da desigualdade econômica entre todos os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os aspectos básicos do mercado escolar desregulamentado estão agora sendo reconsiderados, levantando interrogações sobre o envolvimento do setor privado em outras áreas, como a de saúde.

Duas décadas após o início de seu experimento de “livre” mercado na educação, cerca de 25% dos alunos do ensino médio da Suécia frequentam agora escolas financiadas com recursos públicos, mas administradas pela iniciativa privada. Essa proporção é quase o dobro da média mundial. Quase metade desses alunos estudam em escolas parcial ou totalmente controladas por empresas de “private equity”, que compram participações em outras empresas.

Na expectativa das eleições do ano que vem, políticos de todos os matizes estão questionando o papel dessas empresas, acusadas de privilegiar o lucro em detrimento da educação, com práticas como deixar alunos decidirem quando aprenderam o suficiente para passar e não manter registro de notas.

O oposicionista Partido Verde – que, a exemplo dos moderados, apoia há muito as escolas de gestão privada, mas que agora defende um recuo – divulgou um pedido público de desculpas num jornal sueco no mês passado sob o título “Perdoe-nos, nossa política desencaminhou nossas escolas”.

No início da década de 1990, os pais recebiam vales do Estado para pagar a escola de sua preferência. A existência de escolas privadas foi autorizada pela primeira vez, e elas podiam até ter fim lucrativo.

O Reino Unido absorveu muitos aspectos desse sistema, embora não tenha chegado a permitir que escolas custeadas com dinheiro público visassem lucro. Empresas de educação suecas alcançaram países tão distantes como a Índia.

A falência, neste ano, da JB Education, controlada pela empresa dinamarquesa de “private equity” Axcel, foi o maior, mas não o único, caso do setor educacional sueco.

O fechamento da JB custou o emprego de quase mil pessoas e deixou mais de 1 bilhão de coroas suecas (US$ 150 milhões) em dívidas. Os alunos de suas escolas ficaram abandonados.

Uma em cada quatro escolas de ensino médio é deficitária e, desde 2008, o risco de insolvência subiu 188% e é 25% superior à média das empresas suecas, disse a consultoria UC. “São poucos os setores que exibem cifras tão ruins como essas”, disse a UC. Parte do problema resulta da distribuição etária da população, com os números totais das escolas secundárias sofrendo queda significativa desde 2008 e pouca probabilidade de voltar ao antigo nível por uma geração ou mais.

A permissividade do ambiente regulatório também contribuiu. A Suécia substituiu um dos sistemas escolares mais rigidamente regulamentados do mundo por um dos mais desregulamentados, o que levou a escândalos como um caso de 2011 em que um pedófilo condenado pôde abrir várias escolas de forma absolutamente legal.

“Eu disse muitas vezes que é mais fácil abrir uma escola do que uma barraca de cachorro-quente”, disse Eva-Lis Siren, diretora do sindicato de professores Lärarförbundet, o maior da Suécia.

As escolas privadas introduziram muitas práticas antes exclusivas do mundo corporativo, como bônus por desempenho para funcionários e divulgação de anúncios no sistema de metrô de Estocolmo. Ao mesmo tempo, a concorrência pôs os professores sob pressão para dar notas mais altas e fazer marketing de suas escolas.

No início, disseram que a participação privada na educação se daria por meio de escolas geridas individualmente e em nível local. Poucos vislumbraram que haveria empresas de “private equity” e grandes corporações administrando centenas de unidades. “Era uma coisa que não estava sequer nos sonhos mais delirantes das pessoas”, tenta se justificar Staffan Lundh, responsável por questões escolares no governo do primeiro-ministro na época e que hoje dirige a Skolverket, a agência sueca de escolas.

É tão obvio que envolvimento do setor privado e a queda da qualidade estão diretamente ligados que a Skolverket já começa a “vê indícios” de que as reformas de mercado contribuíram para aprofundar o fosso do desempenho escolar.

O referencial Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, nas iniciais em inglês) da OCDE pinta um quadro sombrio, em que a Suécia ocupa atualmente classificação inferior à da Rússia em matemática.

Vinte e cinco por cento dos garotos de 15 anos não conseguem entender um texto factual básico, disse Anna Ekstrom, diretora da Skolverket. Um estudo da agência divulgado no ano passado mostrou um diferencial crescente entre estudantes, em que um número cada vez maior deles não preenche os requisitos necessários para ingressar no ensino médio.

Uma pesquisa da GP/Sifo realizada neste ano com mil pessoas mostrou que 58% são amplamente favoráveis a proibir a geração de lucro em áreas financiadas com dinheiro público, como a educação.

O ministro da Educação, Jan Bjorklund, de centro-direita, dirigente do segundo maior partido da coalizão de governo, formada por quatro partidos, disse que empresas de “private equity” também deveriam ser vetadas como controladoras de empresas do setor de assistência médica, inclusive de assistência aos idosos.

“Acho que acreditamos cegamente demais na possibilidade de mais escolas privadas garantirem maior qualidade da educação”, disse Tomas Tobé, diretor da comissão de educação do Parlamento e porta-voz de educação do governista Partido Moderado. Como são “ingênuos” os neoliberais…

O fechamento de escolas e a piora dos resultados tiraram o brilho de um modelo de educação admirado e imitado em todo o mundo pelos mesmos privatistas e neoliberais que propagandeiam o mercado capitalista como uma espécie de solução milagrosa para todos problemas da sociedade, quando na verdade é o capitalismo quem gera todos os problemas e desigualdades sociais ao concentar toda a riqueza, poder e oportunidades nas mãos de uma classe dominante privilegiada, as custas da miséria, exploração e exclusão de grande parte da humanidade e do empobrecimento crescente dos povos.

(Disponível em: http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/por-que-a-suecia-esta-revendo-a-privatizacao-do-ensino/)

sábado, 21 de dezembro de 2013

Saúde, Dilma! (Ruth de Aquino)

São nossos votos para 2014, presidente. A senhora venceu uma doença e uma eleição. Ao que tudo indica vencerá a próxima. A senhora precisa de saúde como mulher, mãe e avó. O Brasil precisa de Saúde, com maiúscula.
A coluna anterior “O corredor da morte nos hospitais” atingiu o nervo da revolta entre os leitores. Reproduzo abaixo parte da carta de um médico, que pede para não ser identificado, com medo de represálias:

“Prezada Ruth. O que aconteceu com seu pai, infelizmente, é normal. Acontece com TODOS os planos de saúde em TODOS os hospitais do Brasil, quando se trata de atendimento de emergência. A autorização de procedimentos é sempre por telefone e, se você já tentou, sabe que isso significa horas de lenga-lenga e musiquinhas irritantes.

Até que se contate um médico auditor responsável, pelo menos uma hora já é perdida na espera. Por isso, os melhores atendimentos de emergência ainda estão nos hospitais públicos. Quando é preciso uma cirurgia de urgência, o cenário muda: vou dar o exemplo de um caso comum em nosso dia a dia.

O paciente chega politraumatizado – com uma fratura exposta de perna e um traumatismo craniano leve. A pancada na cabeça torna necessária a realização de exames, como uma tomografia, e a colocação do paciente em observação. A fratura exposta deve ser operada logo. Quanto mais tempo demora, maior o risco de o paciente contrair uma infecção que, se confirmada, será de difícil tratamento – ossos não respondem bem a infecções, o que obrigaria a cirurgias posteriores. Uma urgência, portanto.

Como o paciente está lúcido, ele diz à equipe que tem plano e quer operar em hospital particular. O chefe de equipe faz o contato e, em até duas horas, a transferência é autorizada. Falta a ambulância chegar, o que só costuma acontecer cerca de três horas depois.

É isso mesmo: em média, entre a chegada do paciente ao hospital público e a saída do paciente para o particular, o tempo de espera varia entre 5 e 8 horas. Diz-se que o período de ouro para essas cirurgias é de menos de 6 horas, para diminuir o risco de infecção. Normalmente, convencemos o paciente de que é melhor operar no hospital público e, depois, fazer o acompanhamento pós-operatório num hospital particular.

E é com isso que os planos de saúde contam. Que, com a demora, o SUS acabe arcando com as despesas maiores. Exames, medicamentos, material anestésico, material cirúrgico. E que, depois, não haja ressarcimento ao hospital por todos os serviços. Sem contar que um paciente que teria condições de arcar financeiramente por um serviço melhor acaba ocupando ou disputando espaço com pacientes menos favorecidos.

Talvez, no Hospital Lourenço Jorge, seu pai tivesse sido atendido mais rápido. Só teria de esperar pelos procedimentos numa maca muito menos confortável, em contato próximo com outros pacientes. Talvez visse alguns pacientes aguardando cirurgia espalhados nos corredores, por falta de vaga nas enfermarias. Quer dizer, talvez não. O Lourenço não tem neurocirurgião para ver a tomografia cerebral de seu pai. Sobraram só o Miguel Couto e o Souza Aguiar no Rio. Faltam neurocirurgiões que aceitem trabalhar por pouco.

Atualmente, meu salário pela prefeitura do Rio é de R$ 1.686. Passei num concurso entre os primeiros lugares para ter direito a esse salário. Somente aceitei por respeito à instituição onde fiz internato, residência e pós-graduação. Não aceitaria se não fosse por motivos idealistas. Sou obrigado a dar plantões com colegas que não fizeram concurso nenhum. Apenas conhecem as pessoas certas. E, por isso, recebem até R$ 7.500. Para realizar o mesmo serviço.

Também trabalho em hospitais particulares. E tento fazer o certo por lá também. Mas os mesmos planos de saúde que se negavam a pagar a tomografia de seu pai também se negam a pagar decentemente por nossos procedimentos. Recebo cerca de R$ 150 – para a equipe toda, cirurgião, auxiliar e instrumentadora – por uma fratura de calcâneo, cirurgia complexa, com alto risco de complicações. Para a placa e os parafusos utilizados para a fixação, que custam R$ 1.500, os planos pagam tranquilamente R$ 5.000.

Meus antigos professores me dizem que o foco precisa ser a saúde pública. No dia em que a saúde pública remunerar adequadamente a classe médica, os hospitais particulares e os planos de saúde serão obrigados a aumentar as remunerações se quiserem atendimento de qualidade.
Meus mestres são de um tempo em que um médico fazia carreira no mesmo hospital durante toda a vida. O que é cada vez menos possível, mesmo em hospitais particulares. O médico hoje tenta sobreviver até conseguir o suficiente para montar um consultório. Aí, é fugir tanto do serviço público quanto dos planos.  Ou largar a especialização, ir para o interior e entrar para o Mais Médicos.

Atendi índios na Amazônia e sou apaixonado pelo serviço público. Mas é cada vez mais difícil fazer carreira de Estado nos dias de hoje”.

Saúde, Dilma!

(Disponível em: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ruth-de-aquino/noticia/2013/12/bsaudeb-dilma.html)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O SUS que dá certo

Um vídeo mais lindo que o outro no concurso da @RedeHumanizaSUS. Como é bom ver o SUS que dá certo! Me motiva muito a seguir minha profissao

Link para os vídeos do concurso da @RedeHumanizaSUS : http://www.redehumanizasus.net/concurso

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Experimentação do Viver

Às vezes quando paro para pensar e sentir por que eu ainda continuo no curso de Medicina, preciso refletir sobre meus princípios de vida.

Minha opção pela Medicina atualmente é sobretudo ética e política. Eu acredito em uma forma diferente de prática médica e se eu desistir de meu caminho, quem o seguirá por mim? Eu desejo ver essa mudança acontecer!

Creio que várias pessoas passam por questionamentos semelhantes, em várias profissões. E acredito na importância da perseverança nesse caminho, na afirmação dele. Se todos desistirem, nada nunca muda. E a transformação é necessária nos processos da vida.

Às vezes essa minha escolha mais me parece uma tortura ou um masoquismo. Mas o processo de aperfeiçoamento jamais é sereno e calmo, já que são as turbulências que conduzem o indivíduo adiante. Talvez eu precise aprender a conviver melhor com o indesejado, com o sofrido. E sobretudo talvez eu precise aprender a valorizar mais aquilo que me faz bem e que pode ser incluído na minha rotina desgastante.

Esse é um dos motivos pelos quais deletei meu facebook. Meus amigos reais merecem esse tempo que eu estava desperdiçando nas redes sociais. Quero gastá-lo com pessoas que eu amo e comigo mesmo.

Aos poucos, vou aprendendo a felicidade, sentindo os movimentos da vida que levam harmonicamente ao caminho e nadando junto a eles. Ainda vou aprender a viver! A vida é um aprendizado.

Pensando bem, viver não é tão torturante assim... Viver é experimentar-se.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...