domingo, 27 de janeiro de 2013

O Crime e a Sociedade

Amigos, em meio a tanto denuncismo que rola no facebook, eu gostaria de fazer o relato de um roubo que me ocorreu hoje e refletir um pouco sobre a Polícia Militar e a Segurança Pública. Desculpa se ficou grande, mas creio que a leitura será interessante e reflexiva.

O ocorrido:
Hoje, às 19h20, na rua Bocaiúva, saindo do trabalho, fui roubado a caminho da minha casa. O indivíduo levou meu celular e dinheiro. Tentei evitar ser roubado, mas não foi possível por estar com um amigo na hora - o qual ficou nervoso e não soube reagir -, fiquei com medo de o ocorrido tomar proporções maiores e colocar em risco eu e ele.
Logo após o roubo, fui ao meu prédio, entrei em contato com a Central Telefônica da Polícia - 190 - e passei os dados do rapaz. Em seguida, fui à Unidade Móvel da PM, que fica na Beira Mar, e comuniquei pessoalmente o ocorrido. Eu estava indo atravessar a rua para retornar à minha casa quando o policial me chamou. Haviam encontrado o ladrão.
Trouxeram-no até a Unidade Móvel e eu o reconheci. Por sorte, estava com meus pertences.
Fomos encaminhados à DP Civil no centro e lá prestamos depoimentos e meus pertences foram devolvidos. O ladrão estava muito incomodado, eu evitei o olhar dele. No entanto, quando passei por ele, falou assim "Poxa, cara... não precisava fazer B.O." - creio que, fantasiado em sua mente, ele se achava meu "camarada", por ter, durante o roubo, não ter pego minha carteira - mas só o dinheiro -, e nem meu chip - só o celular. Foi o que ele falou na hora do roubo.
Isso motivou este post.

Algumas considerações:
Em primeiro lugar, agradeço a D-us por ele olhar por mim, proteger meu corpo e também os bens que consegui pelo suor do trabalho, meu e de minha família.
Em segundo, presto meu agradecimento à Polícia Militar e Civil, que cumpriu seu dever com eficiência e profissionalismo. Deram a mim toda a atenção, ajudaram-me, aconselharam-me. Agradeço sinceramente
Em terceiro, agradeço ao meu amigo que esteve presente em todo o processo de aguardar o ladrão ser pego, identificá-lo, ir à DP, etc.
Quarto, conforme falei, minha vontade na hora era de reagir. Estávamos mano a mano - ele, embora tentasse parecer armado, visivelmente não portava nada. No entanto, preservei o meu amigo, que estava nervoso e poderia reagir de uma forma negativa, causando ainda mais problemas e piorando a situação. Em 2011, fui assaltado e evitei a perda do meu celular - o mesmo, por sinal - reagindo ao assalto, mas fiquei com bastantes escoriações pelo corpo - guardo algumas pequenas cicatrizes ainda - e o assaltante não foi localizado.

Reflexões sobre o ocorrido:
O mesmo motivo que me fez reagir a um assalto em 2011 é o de agora, que me fez encaminhar o ladrão à prisão: em um Estado de Direito, democrático, NÃO PODEMOS SER IMPUNES. Não abro mão de meus direitos e de minha liberdade. Não abaixo minha cabeça ao crime e à desordem. Se arrisco minha vida, faço com a certeza de que posso estar salvando muitas outras e, inclusive, a do próprio criminoso. Não é meu celular, não é meu dinheiro, não são meus bens materiais. Mas a perpetuação do crime, que leva medo às famílias honestas e de bem, pune o trabalhador e que em nada muda o sistema - real culpado pelo criminoso estar preso nesse círculo do crime.
Pensa alguém, agora, que eu não sinto pelo criminoso? Claro, não nego meu "eu" sadista que pensa "HAHAHA, ele foi preso", não. Mas acima disso está meu "eu" solidário, que questiona "por que ele fez isso?" "será que posso ajudá-lo?". Mas eu, sozinho, numa situação como aquela, em nada poderia ajudar! Oras, que faria? Perguntaria a ele isso que me questionei? Colocaria a mão no ombro dele e falaria sobre meu desejo de coisas boas em sua vida? Isso nada mudaria! Mesmo assim, minha única certeza é: não fazer nada é não fazer nada! Perco meu celular, meu dinheiro, ele continua roubando, continua no círculo do crime e da droga, eu perco minha liberdade, me afundo em medo e - no fim - todos sofremos.
Sei que o sistema penal e penitenciário que dispomos é falho. Mas, se eu não denunciar, ele continuará sendo falho e ninguém saberá disso! Se o criminoso vai sofrer por isso? Vai, eu sei! Mas ele errou, independente das circunstâncias, ele errou! E se o Estado não é correto e eficaz em corrigi-lo, POR ISSO ESTOU AQUI ESCREVENDO ESTE TEXTO!
Eu estaria errado se simplesmente permitisse que o criminoso fosse preso e fechasse meus olhos a tudo isso que estou questionando e denunciando. Não.
Não fecho meus olhos para o crime e nem bato no peito a hipocrisia do não-materialismo. Eu quero uma sociedade melhor.
Quem me conhece, sabe: eu não me calo perante as injustiças. Posso até estar errado em minhas ideias, mas eu denuncio o que me parece injusto. Trabalho para que seja mudado. E busco sempre ter mente aberta para mudar quando eu estou enganado.
Por isso, também não fecho meus olhos para a raiz do crime: a inequidade, inerente à sociedade capitalista em que vivemos. Poucos são os que roubam e matam por satisfação de seus desejos íntimos. A maioria faz por estar sozinha e abandonada por uma sociedade que a acusa de "drogada", "malandra", "vagabunda" - enquanto a ela fornece a droga, impede o acesso à educação e ao emprego, e lhe dá como único sustento da "sobrevida" o crime.
Meu desejo real a esse jovem de 19 anos, usuário de drogas, que me roubou no dia de hoje: que ele seja tratado pela dependência de entorpecentes; que ele tenha um círculo de amigos e entes queridos forte; que ele possa ter acesso à educação de qualidade, para conseguir um bom emprego e ter consciência crítica sobre sua situação; e, por fim, que ele possa ser feliz. Desejo tudo isso, e que ele tenha tanto espaço na sociedade quanto eu tive para que possa conseguir seus bens e dinheiro pelo suor, e não pelo roubo e/ou agressão ao seu semelhante.
O que farei por isso? Continuarei defendendo e trabalhando pela NÃO-IMPUNIDADE, pelo SOCIALISMO e JUSTIÇA SOCIAL, e por uma vida justa, honesta e ética, pela qual me pauto.
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