Hoje cheguei ao edifício onde moro e tive (mais) um desgosto de passar pela área comum até chegar em meu apartamento. Explico.
Estava no elevador um cartaz, com título "MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS II - O RETORNO" e nele descrito uma manifestação em frente à Brigada Militar, solicitando intervenção dos militares na política brasileira, para retirar o PT do poder.
Não me controlei e escrevi dois bilhetes em post-it. Em um deles: "Que tal começarmos uma NOVA POLÍTICA em nosso próprio condomínio, em nossa comunidade? A corrupção, as intrigas, a inoperância e a TIRANIA nascem mais próximas a nós do que imaginamos." Em outro: "Tirem suas bundas de suas camas/cadeiras e vão TRABALHAR por um novo Brasil. Deveriam se envergonhar de exaltar um GOLPE ANTIDEMOCRÁTICO."
Estou inquieto até agora. Já não gosto de morar em meio a tanto dinossauro da elite brasileira (esse é mais um preço que se paga por morar em um bairro nobre, além dos altos impostos), todavia enquanto ficavam em suas cavernas eu ao menos podia ignorar esse fato. Questão é que resolveram sair (fora das reuniões de condomínio, onde já demonstravam seu anacronismo e velharia) para mostrar suas garras nefastas, as garras da velha elite colonialista brasileira, a qual sempre esteve atrelada ao braço militar, por meios escusos de articulação e ação.
Devemos combater a ignorância, o preconceito e a tirania de certos movimentos que estão se fortalecendo em nossa sociedade. E, como ocorre comigo, eles podem estar brotando na porta ao lado. Não podemos ficar calados. Devemos defender nosso bem maior, a democracia, e sobretudo os avanços que já conquistamos na sociedade brasileira.
Não sou PT, mas não sou de uma oposição conservadora e desleal, que ignora valores fundamentais de nossa sociedade para tentar alcançar seus fins elitistas e deploráveis. E, se em algum momento for necessário, irei à rua defender com meu sangue esses baluartes. Por enquanto, me restrinjo à luta no campo intelectual e político, pois mais que isso seria exagero e contraprodutivo no momento atual.
Hoje não vou dormir em paz. A bem da verdade, já não durmo em paz há muito tempo, já que há muita miséria e desolação - sintomas de um sistema hegemônico selvagem e desumano, o capitalismo - para combater. Estão a nossa volta, e muitos fingem não existir, ou não se sentem responsáveis, ou, pior, sabem que da fome, do suor e da lágrima do outro forja seu banquete de farturas e coisas supérfluas.
Que essa minha falta de paz seja minha força-motriz para defender sempre aqueles desassistidos. E que meu grito não seja solitário. A luta é nossa, da humanidade, para banir aquilo que nos prende ao passado de tirania e de iniquidades, no vislumbre de uma nova sociedade, a qual garanta a todos seu direito legítimo e básico à humanidade.
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sexta-feira, 14 de março de 2014
sábado, 24 de agosto de 2013
A terceirização da ética
"370 anos antes de Cristo (a.C), Hipócrates deixou como herança um juramento que serve de modelo até hoje, pra todo profissional da medicina, quando da diplomação.
Juramento de Hipócrates:
“Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panaceia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Conservarei imaculada minha vida e minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça.”
Em 1957, orador da turma, foi em cima desse ensinamento que ousei falar, ousei pregar, sob o título “A Função Social do Médico e os Imperativos da Hora Presente”.
Os anos passam, mas as verdades permanecem.
Pouco importa os desvios e os descaminhos dos que não honraram seu juramento, muitos, mais vítimas do que réus do sistema.
Todos nós sabemos que a Economia e a Ética nem sempre andam juntas.
Daí compreender que o economista Ministro da Educação, de maneira autoritária, não ouça os que praticam e ensinam a medicina no Brasil e ouse mudar currículos, determinar regras, estabelecer critérios, de maneira autoritária e interesseira, própria dos politiqueiros tradicionais desse país.
Data vênia, não é natural que o Ministro da Educação Mercadante, mercadeje com a dignidade da medicina brasileira.
Cousa pior faz o médico Padilha, juramentado com Hipócrates, terceirizando a mão-de-obra médica sob a alegação, sempre esperta e malandra de atender o interesse público.
Parabéns ao Ministério Público do Trabalho que atento, percebeu as contradições de um Governo que perdeu o respeito pela sua própria história.
Pouco importa que a mercantilização na medicina tenha acontecido, que a indústria farmacêutica tenha corrompido profissionais, fazendo da saúde um negócio.
Pouco importa que os erros médicos nesse país não sejam punidos como deveriam.
Pouco importa que não tenham planejado como Governo, a falta de profissionais médicos e paramédicos.
Pouco importa que tenham preferido estádios à hospitais.
Marx, Hegel, Bobbio, Adam Smith, Gramsci, pensaram muito sobre o problema da “mais valia”, tema atual até hoje.
Comprar mão-de-obra barata de maneira oficial entre governos, que serão remuneradas à critério dos patrões, é inacreditável.
O Brasil já vive a vergonha do aluguel do seu esporte preferido aos quadrilheiros da FIFA que além de suspenderem temporariamente a legislação brasileira, determinam regras até mesmo para os catadores de lixo e baianas vendedoras de acarajé, com a complacência inaceitável, dos que se dizem socialistas.
É a Economia sem Ética da “mais valia”, praticada pelos que tinham que ter mais consciência.
Em tempo, recebamos nossos médicos cubanos com solidariedade.
Que a saga trágica do povo cubano, que nós reverenciamos na juventude, na figura libertária de Che Guevara, seja respeitada.
Que os “médicos da família” que para aqui vêm, impedidos de trazer as suas próprias, protegidas como reféns, mereçam nossa acolhida e conforto.
Manipular necessidades sociais com uma visão oportunista e sacana, com medidas improvisadas, desagregando categorias profissionais, dividindo a sociedade, próprio de bandoleiros, exige coragem para serem denunciadas.
Escusas,
Saudações Democráticas.
JAISON BARRETO"
Juramento de Hipócrates:
“Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panaceia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Conservarei imaculada minha vida e minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça.”
Em 1957, orador da turma, foi em cima desse ensinamento que ousei falar, ousei pregar, sob o título “A Função Social do Médico e os Imperativos da Hora Presente”.
Os anos passam, mas as verdades permanecem.
Pouco importa os desvios e os descaminhos dos que não honraram seu juramento, muitos, mais vítimas do que réus do sistema.
Todos nós sabemos que a Economia e a Ética nem sempre andam juntas.
Daí compreender que o economista Ministro da Educação, de maneira autoritária, não ouça os que praticam e ensinam a medicina no Brasil e ouse mudar currículos, determinar regras, estabelecer critérios, de maneira autoritária e interesseira, própria dos politiqueiros tradicionais desse país.
Data vênia, não é natural que o Ministro da Educação Mercadante, mercadeje com a dignidade da medicina brasileira.
Cousa pior faz o médico Padilha, juramentado com Hipócrates, terceirizando a mão-de-obra médica sob a alegação, sempre esperta e malandra de atender o interesse público.
Parabéns ao Ministério Público do Trabalho que atento, percebeu as contradições de um Governo que perdeu o respeito pela sua própria história.
Pouco importa que a mercantilização na medicina tenha acontecido, que a indústria farmacêutica tenha corrompido profissionais, fazendo da saúde um negócio.
Pouco importa que os erros médicos nesse país não sejam punidos como deveriam.
Pouco importa que não tenham planejado como Governo, a falta de profissionais médicos e paramédicos.
Pouco importa que tenham preferido estádios à hospitais.
Marx, Hegel, Bobbio, Adam Smith, Gramsci, pensaram muito sobre o problema da “mais valia”, tema atual até hoje.
Comprar mão-de-obra barata de maneira oficial entre governos, que serão remuneradas à critério dos patrões, é inacreditável.
O Brasil já vive a vergonha do aluguel do seu esporte preferido aos quadrilheiros da FIFA que além de suspenderem temporariamente a legislação brasileira, determinam regras até mesmo para os catadores de lixo e baianas vendedoras de acarajé, com a complacência inaceitável, dos que se dizem socialistas.
É a Economia sem Ética da “mais valia”, praticada pelos que tinham que ter mais consciência.
Em tempo, recebamos nossos médicos cubanos com solidariedade.
Que a saga trágica do povo cubano, que nós reverenciamos na juventude, na figura libertária de Che Guevara, seja respeitada.
Que os “médicos da família” que para aqui vêm, impedidos de trazer as suas próprias, protegidas como reféns, mereçam nossa acolhida e conforto.
Manipular necessidades sociais com uma visão oportunista e sacana, com medidas improvisadas, desagregando categorias profissionais, dividindo a sociedade, próprio de bandoleiros, exige coragem para serem denunciadas.
Escusas,
Saudações Democráticas.
JAISON BARRETO"
quinta-feira, 30 de maio de 2013
"Manifesto dos Iguais", Gracchus Babeuf
Povo da França!
Durante perto de vinte séculos viveste na escravidão e foste por isso demasiado infeliz. Mas desde há seis anos que respiras afanosamente na esperança da independência, da felicidade e da igualdade.
A igualdade! - primeira promessa da natureza, primeira necessidade do homem e elemento essencial de toda a legítima associação! Povo da França, tu não ficaste mais favorecido do que as outras nações que vegetam sobre esta mísera terra! Sempre e em qualquer lado, a pobre espécie humana, vítima de antropófagos mais ou menos astutos, foi joguete de todas as ambições, pasto de todas as tiranias. Sempre e em qualquer lado se adulou os homens com belas palavras, mas nunca e em lugar nenhum obtiveram eles aquilo que, através das palavras, lhes prometeram. Desde tempos imemoriais se vem repetindo hipocritamente: os homens são iguais. Mas desde há longo tempo que a desigualdade mais vil e mais monstruosa pesa insolentemente sobre o gênero humano.
Desde a própria existência da sociedade civil, o atributo mais belo do homem vem sendo reconhecido sem oposição, mas nem uma só vez pôde ver-se convertido em realidade: a igualdade nunca foi mais do que uma bela e estéril ficção da lei. E hoje, quando essa igualdade é exigida numa voz mais forte do que nunca, a resposta é esta: "Calai-vos, miseráveis! A igualdade não é realmente mais do que uma quimera; contentai-vos com a igualdade relativa: todos sois iguais em face da lei. Que quereis mais, miseráveis?" Que mais queremos? Legisladores, governantes, proprietários ricos; é agora a vossa vez de nos escutardes.
Todos somos iguais, não é verdade? Este é um princípio incontestável, porque ninguém poderá dizer seriamente, a não ser que esteja atacado de loucura, que é noite quando se vê que ainda é dia. Pois bem, o que pretendemos é viver e morrer iguais já que como iguais nascemos: queremos a igualdade efetiva ou a morte.
Não importa qual o preço, mas havemos de conquistar essa igualdade real. Ai daqueles que se interponham entre ela e nós! Ai de quem se oponha a um juramento formulado desta forma!
A Revolução Francesa não é mais do que a vanguarda de outra revolução maior e mais solene: a última revolução.
O povo passou por cima dos corpos do rei e dos poderosos coligados contra ele; e assim acontecerá com os novos tiranos, com os novos tartufos políticos sentados no lugar dos velhos.
De que mais precisamos além da igualdade de direitos?
Temos apenas necessidade dessa igualdade, da qual resulta a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: queremos vê-la entre nós, sob o teto das nossas casas. Estamos dispostos a tudo, a fazer tábua-rasa de tudo o mais, apenas para conservar a igualdade. Pereçam, se for necessário, todas as artes, desde que se mantenha de pé a igualdade real!
Legisladores e governantes, com tão pouco engenho como boa fé, proprietários ricos e sem coração, em vão tentais neutralizar a nossa sagrada missão dizendo: "Eles não fazem mais do que reproduzir aquela lei agrária exigida já por diversas vezes no passado".
Caluniadores, calai-vos pela vossa parte e, em silêncio de confissão, escutai as nossas pretensões, ditadas pela natureza e baseadas na justiça.
A lei agrária, ou a divisão da terra, foi aspiração momentânea de alguns soldados sem princípios, de algumas populações incitadas pelo seu instinto mais do que pela razão. Nós temos algo de mais sublime e de mais eqüitativo: o bem comum, ou a comunidade de bens! Nós reclamamos, nós queremos desfrutar coletivamente dos frutos da terra: esses frutos pertencem a todos.
Declaramos que, posteriormente, não poderemos permitir que a imensa maioria dos homens trabalhe e esteja ao serviço e ao mando de uma pequena minoria.
Há muito tempo já que menos de um milhão de indivíduos tem vindo a dispor de quanto pertence a mais de vinte milhões de semelhantes seus, de homens que são em tudo iguais a eles.
Devemos pôr termo a este grande escândalo, que os nossos netos não quererão acreditar possa ter existido! Devemos fazer desaparecer, finalmente, essas odiosas distinções de classes entre ricos e pobres, entre grandes e pequenos, entre senhores e servos, entre governantes e governados.
Que entre os homens não exista mais nenhuma diferença do que aquela que lhes é dada pela idade e pelo sexo. E, porque todos temos as mesmas necessidades e as mesmas faculdades, que exista, portanto, uma única educação para todos e um idêntico regime de alimentação. Toda a gente se sente satisfeita por dispor do sol e do mesmo ar que respira. Porque não há de acontecer o mesmo com a quantidade e a qualidade dos alimentos?
Mas é verdade que já os inimigos da ordem de coisas mais natural que imaginar se possa protestam e clamam contra nós.
Desorganizadores e facciosos, dizem-nos eles, vós só desejais que exista anarquia e massacre.
Povo da França!
Não desejamos perder tempo a responder a esses senhores, mas a ti dizemos-te: a sagrada tarefa em que estamos empenhados não tem outro objetivo que não seja pôr termo às lutas civis e à miséria pública.
Nunca foi concebido e posto em execução um plano mais vasto do que este. De vez em quando, alguns homens de talento, homens inteligentes, falaram em voz baixa e temerosa desse plano. Mas nenhum deles, claro, teve a coragem necessária para dizer toda a verdade.
Chegou a hora das grandes decisões. O mal encontra-se no seu ponto culminante, está a cobrir toda a face da terra. O caos, sob o nome de política, há já demasiados séculos que reina sobre ela. Que tudo volte, pois, a entrar na ordem exata e que cada coisa torne a ocupar o seu posto. Ao grito de igualdade, os elementos da justiça e da felicidade estão a organizar-se. Chegou o momento de fundar a República dos Iguais, este grande refúgio aberto a todos os homens. Chegaram os dias da restituição geral. Famílias sacrificadas, vinde todas sentar-vos à mesa comum posta para todos os vossos filhos.
Povo da França!
A ti estava, pois, reservada a mais esplendorosa de todas as glórias! Sim, tu serás o primeiro que oferecerá ao Mundo este comovedor espetáculo.
Os hábitos inveterados, os antigos preconceitos, farão novamente tudo para impedir a implantação da República dos Iguais. A organização da igualdade efetiva, a única que satisfaz todas as necessidades sem provocar vítimas, sem custar sacrifícios, talvez em princípio não agrade a todos. Os egoístas, os ambiciosos, rugirão de raiva. Os que conquistaram injustamente as suas possessões dirão que está a cometer-se uma injustiça em relação a eles. Os prazeres individuais, os prazeres solitários, as comodidades pessoais, serão motivo de grande pesar para os indivíduos que sempre se caracterizaram pela sua indiferença ante os sofrimentos do próximo. Os amantes do poder absoluto, os miseráveis partidários da autoridade arbitrária, baixarão pesarosos as suas soberbas cabeças perante o nível da igualdade real. A sua visão estreita dificilmente penetrará no próximo futuro da felicidade comum. Mas que podem fazer alguns milhares de descontentes contra uma massa de homens completamente satisfeitos de terem procurado durante tanto tempo uma felicidade que sempre tiveram à mão?
Logo que se verificar esta autêntica revolução, estes últimos, estupefatos, dirão uns aos outros: "Como custava tão pouco conseguir a felicidade comum! Era necessário apenas ter o desejo de alcançá-la. E por que não fizemos isso há mais tempo?" Será preciso repetir sempre uma e outra vez? Sim, sem dúvida, basta que sobre a terra um homem seja mais rico e mais poderoso do que os seus semelhantes, do que os seus iguais, para que o equilíbrio se quebre e o crime e a desgraça invadam o Mundo.
Povo da França!
Quais os sinais que nos permitem reconhecer as qualidades de uma Constituição? Aquela que se apóia integralmente sobre a igualdade é, na realidade, a única que te convém, a única que satisfaz as tuas aspirações.
As cartas aristocráticas dos anos 1791 e 1795, em vez de romper as tuas cadeias, vieram consolidá-las. A de 1793 supôs ser um grande passo no sentido da igualdade real, mas não conseguiu todavia esse objetivo e não apontou diretamente para a igualdade comum, embora consagrasse solenemente o grande princípio dessa igualdade.
Povo da França!
Abre os olhos e o coração para a plenitude da felicidade; reconhece e proclama conosco a República dos Iguais.
Durante perto de vinte séculos viveste na escravidão e foste por isso demasiado infeliz. Mas desde há seis anos que respiras afanosamente na esperança da independência, da felicidade e da igualdade.
A igualdade! - primeira promessa da natureza, primeira necessidade do homem e elemento essencial de toda a legítima associação! Povo da França, tu não ficaste mais favorecido do que as outras nações que vegetam sobre esta mísera terra! Sempre e em qualquer lado, a pobre espécie humana, vítima de antropófagos mais ou menos astutos, foi joguete de todas as ambições, pasto de todas as tiranias. Sempre e em qualquer lado se adulou os homens com belas palavras, mas nunca e em lugar nenhum obtiveram eles aquilo que, através das palavras, lhes prometeram. Desde tempos imemoriais se vem repetindo hipocritamente: os homens são iguais. Mas desde há longo tempo que a desigualdade mais vil e mais monstruosa pesa insolentemente sobre o gênero humano.
Desde a própria existência da sociedade civil, o atributo mais belo do homem vem sendo reconhecido sem oposição, mas nem uma só vez pôde ver-se convertido em realidade: a igualdade nunca foi mais do que uma bela e estéril ficção da lei. E hoje, quando essa igualdade é exigida numa voz mais forte do que nunca, a resposta é esta: "Calai-vos, miseráveis! A igualdade não é realmente mais do que uma quimera; contentai-vos com a igualdade relativa: todos sois iguais em face da lei. Que quereis mais, miseráveis?" Que mais queremos? Legisladores, governantes, proprietários ricos; é agora a vossa vez de nos escutardes.
Todos somos iguais, não é verdade? Este é um princípio incontestável, porque ninguém poderá dizer seriamente, a não ser que esteja atacado de loucura, que é noite quando se vê que ainda é dia. Pois bem, o que pretendemos é viver e morrer iguais já que como iguais nascemos: queremos a igualdade efetiva ou a morte.
Não importa qual o preço, mas havemos de conquistar essa igualdade real. Ai daqueles que se interponham entre ela e nós! Ai de quem se oponha a um juramento formulado desta forma!
A Revolução Francesa não é mais do que a vanguarda de outra revolução maior e mais solene: a última revolução.
O povo passou por cima dos corpos do rei e dos poderosos coligados contra ele; e assim acontecerá com os novos tiranos, com os novos tartufos políticos sentados no lugar dos velhos.
De que mais precisamos além da igualdade de direitos?
Temos apenas necessidade dessa igualdade, da qual resulta a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: queremos vê-la entre nós, sob o teto das nossas casas. Estamos dispostos a tudo, a fazer tábua-rasa de tudo o mais, apenas para conservar a igualdade. Pereçam, se for necessário, todas as artes, desde que se mantenha de pé a igualdade real!
Legisladores e governantes, com tão pouco engenho como boa fé, proprietários ricos e sem coração, em vão tentais neutralizar a nossa sagrada missão dizendo: "Eles não fazem mais do que reproduzir aquela lei agrária exigida já por diversas vezes no passado".
Caluniadores, calai-vos pela vossa parte e, em silêncio de confissão, escutai as nossas pretensões, ditadas pela natureza e baseadas na justiça.
A lei agrária, ou a divisão da terra, foi aspiração momentânea de alguns soldados sem princípios, de algumas populações incitadas pelo seu instinto mais do que pela razão. Nós temos algo de mais sublime e de mais eqüitativo: o bem comum, ou a comunidade de bens! Nós reclamamos, nós queremos desfrutar coletivamente dos frutos da terra: esses frutos pertencem a todos.
Declaramos que, posteriormente, não poderemos permitir que a imensa maioria dos homens trabalhe e esteja ao serviço e ao mando de uma pequena minoria.
Há muito tempo já que menos de um milhão de indivíduos tem vindo a dispor de quanto pertence a mais de vinte milhões de semelhantes seus, de homens que são em tudo iguais a eles.
Devemos pôr termo a este grande escândalo, que os nossos netos não quererão acreditar possa ter existido! Devemos fazer desaparecer, finalmente, essas odiosas distinções de classes entre ricos e pobres, entre grandes e pequenos, entre senhores e servos, entre governantes e governados.
Que entre os homens não exista mais nenhuma diferença do que aquela que lhes é dada pela idade e pelo sexo. E, porque todos temos as mesmas necessidades e as mesmas faculdades, que exista, portanto, uma única educação para todos e um idêntico regime de alimentação. Toda a gente se sente satisfeita por dispor do sol e do mesmo ar que respira. Porque não há de acontecer o mesmo com a quantidade e a qualidade dos alimentos?
Mas é verdade que já os inimigos da ordem de coisas mais natural que imaginar se possa protestam e clamam contra nós.
Desorganizadores e facciosos, dizem-nos eles, vós só desejais que exista anarquia e massacre.
Povo da França!
Não desejamos perder tempo a responder a esses senhores, mas a ti dizemos-te: a sagrada tarefa em que estamos empenhados não tem outro objetivo que não seja pôr termo às lutas civis e à miséria pública.
Nunca foi concebido e posto em execução um plano mais vasto do que este. De vez em quando, alguns homens de talento, homens inteligentes, falaram em voz baixa e temerosa desse plano. Mas nenhum deles, claro, teve a coragem necessária para dizer toda a verdade.
Chegou a hora das grandes decisões. O mal encontra-se no seu ponto culminante, está a cobrir toda a face da terra. O caos, sob o nome de política, há já demasiados séculos que reina sobre ela. Que tudo volte, pois, a entrar na ordem exata e que cada coisa torne a ocupar o seu posto. Ao grito de igualdade, os elementos da justiça e da felicidade estão a organizar-se. Chegou o momento de fundar a República dos Iguais, este grande refúgio aberto a todos os homens. Chegaram os dias da restituição geral. Famílias sacrificadas, vinde todas sentar-vos à mesa comum posta para todos os vossos filhos.
Povo da França!
A ti estava, pois, reservada a mais esplendorosa de todas as glórias! Sim, tu serás o primeiro que oferecerá ao Mundo este comovedor espetáculo.
Os hábitos inveterados, os antigos preconceitos, farão novamente tudo para impedir a implantação da República dos Iguais. A organização da igualdade efetiva, a única que satisfaz todas as necessidades sem provocar vítimas, sem custar sacrifícios, talvez em princípio não agrade a todos. Os egoístas, os ambiciosos, rugirão de raiva. Os que conquistaram injustamente as suas possessões dirão que está a cometer-se uma injustiça em relação a eles. Os prazeres individuais, os prazeres solitários, as comodidades pessoais, serão motivo de grande pesar para os indivíduos que sempre se caracterizaram pela sua indiferença ante os sofrimentos do próximo. Os amantes do poder absoluto, os miseráveis partidários da autoridade arbitrária, baixarão pesarosos as suas soberbas cabeças perante o nível da igualdade real. A sua visão estreita dificilmente penetrará no próximo futuro da felicidade comum. Mas que podem fazer alguns milhares de descontentes contra uma massa de homens completamente satisfeitos de terem procurado durante tanto tempo uma felicidade que sempre tiveram à mão?
Logo que se verificar esta autêntica revolução, estes últimos, estupefatos, dirão uns aos outros: "Como custava tão pouco conseguir a felicidade comum! Era necessário apenas ter o desejo de alcançá-la. E por que não fizemos isso há mais tempo?" Será preciso repetir sempre uma e outra vez? Sim, sem dúvida, basta que sobre a terra um homem seja mais rico e mais poderoso do que os seus semelhantes, do que os seus iguais, para que o equilíbrio se quebre e o crime e a desgraça invadam o Mundo.
Povo da França!
Quais os sinais que nos permitem reconhecer as qualidades de uma Constituição? Aquela que se apóia integralmente sobre a igualdade é, na realidade, a única que te convém, a única que satisfaz as tuas aspirações.
As cartas aristocráticas dos anos 1791 e 1795, em vez de romper as tuas cadeias, vieram consolidá-las. A de 1793 supôs ser um grande passo no sentido da igualdade real, mas não conseguiu todavia esse objetivo e não apontou diretamente para a igualdade comum, embora consagrasse solenemente o grande princípio dessa igualdade.
Povo da França!
Abre os olhos e o coração para a plenitude da felicidade; reconhece e proclama conosco a República dos Iguais.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Homenagem à Mãe
"Ao lado de um grande homem há sempre uma grande mulher."
Mãe, se um dia eu me tornar um grande homem - e aqui não falo de dinheiro, bens materiais, coisas assim, mas de valores, conquistas, de ser útil à sociedade -, como eu desejo, queria que tu soubesses que será porque a tive ao meu lado, em todos os anos de minha formação como ser humano.
Hoje é teu aniversário e, embora eu possa não ser o melhor dos filhos - todos têm seus defeitos, e eu sou frio e distante mesmo, principalmente com quem eu amo de verdade -, faço questão de te deixar uma homenagem sincera, com tudo o que às vezes eu gostaria de falar, mas que o meu jeito de ser nem sempre permite... às vezes as brigas, discussões e desentendimentos se tornam mais frequentes e não dão espaço para esse tipo de conversa carinhosa, amorosa. Mas acho que é normal mesmo assim. Enfim, aqui está a homenagem que tu merece: faço questão de tornar público o carinho e admiração que tenho por ti, mesmo perante nossas diferenças.
Admiro a forma como tu te preocupas com as pessoas, que eu sempre vi, quando criança, em como tu chegavas em casa depois do trabalho na escola: exausta, preocupada no que fazer para o dia seguinte, às vezes triste, por não poder fazer muito por pessoas que precisam de ajuda... Eu carrego comigo esse teu ensinamento e é por isso que eu sempre te digo que não quero fazer uma faculdade de Medicina por fazer, não quero ser um médico qualquer - desses aí que só vivem de dar receita para os pacientes, sem se importar com a cura, hoje tão necessária, embora ausente, da alma -, quero, pois, ser um bom médico - não desejo ser daqueles conhecidos -, só ser um bom médico, que consiga levar paz e conforto aos pacientes, muitas vezes simplesmente por ouvi-los e, sentindo o que passam, buscar aliviar o que os acomete. E saiba: quando chegar a hora, quero ter orgulho quando eu chegar em casa triste por não ter conseguido ajudar totalmente o paciente. Orgulho de me importar em não ter feito o meu melhor e não ter dado aquilo que a pessoa que me consultou necessitava.
Admiro o valor que hoje tu dás à moralidade e a uma vida útil e não-superficial. Vi isso quando houve a separação com o pai, quando tu largasse o uso do cigarro, quando abdicasse do álcool como algo rotineiro e necessário - tá, tu não eras alcoólatra, óbvio, mas enfim... pega o contexto! -, vejo agora na tua perseverança em lapidar tuas virtudes e defeitos no estudo de uma religião que tem, sim, seu valor, o espiritismo. Eu vejo como tu ainda chegas do trabalho - não mais em escola -, às vezes irritada consigo mesma por não ser capaz de fazer tudo o que deseja. Sabe, eu carrego comigo esse teu ensinamento e desejo profundamente ser um homem de valor, livre de vícios e cultuante de virtudes. Saiba: eu jamais vou trair o sentimento da pessoa com quem eu me relacionar.
Admiro fortemente o amor e a dedicação que dás a mim e aos meus irmãos. Vejo isso todos os dias, quando, mesmo passando por uma situação delicada de saúde e tudo o mais, perseverante fazes as compras da casa, cuidas da limpeza e ordem do nosso espaço, tomas conta dos cachorros, fazes a comida, e sempre sai de casa dizendo um tchau, acompanhado de um "Fica com D-us". É impossível não ver isso, quando ainda trabalhas praticamente só porque tem um filho que ainda estuda e precisa do teu apoio - eu -, e outros que ainda estão entrando em voo rumo à independência. Eu carrego, honestamente, esse teu ensinamento e espero no futuro ser um bom pai para os meus filhos, tanto quanto tu estás sendo uma boa mãe para mim e meus irmãos. Saiba: minha vida também será focada em dar aos meus filhos tudo o que necessitam, principalmente amor e dedicação.
Eu te admiro, mãe, mesmo. E tê-la ao meu lado por mais um ano é algo muito importante para mim. E sei que para muitas pessoas também. Espero ser na tua vida motivo de alegrias e orgulho, como todo filho deve ser, e desejo para ti tudo o de melhor: paz, conquistas, amor, sucesso, alegria. Tudo o que tu mereces, mãe.
Só escrevi essa homenagem aqui, em primeiro lugar, porque eu sei o poder que a palavra tem em motivar as pessoas e, em segundo lugar, porque pessoas como tu devem ser reconhecidas. Talvez poucos leiam isso aqui, mas eu espero ter deixado a impressão, para quem leu, de que eu tenho uma mãe maravilhosa, guerreira, mulher de verdade e que merece mesmo ser feliz! Todas as energias transformadoras e criadoras para ti neste dia, mãe. Tu mereces. Seja feliz! Conte sempre comigo.
E a lembrancinha pelo teu aniversário eu já dei, aquele elefantinho que comprei lá em Curitiba para ti, mas o teu maior presente ainda está por vir em alguns anos, e eu sei que tu vais ficar feliz em tê-lo: eu vou ser, sim, um grande homem. Vou ser um bom pai, um bom médico, um bom companheiro, um bom amigo, eu vou ser tudo o que você me ensinou pelo exemplo e pela conversa sobre o que eu tenho de ser. É assim que devolverei tudo aquilo que me desse em nesses meus 21 anos de vida: serei um grande homem, devido a uma grande mulher, tu, minha mãe.
Feliz aniversário! Que D-us a abençõe.
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