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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Dieta perigosa para o planeta (Taís González)

QUE1 QUERÊNCIA 29/01/2008  VIDA & DESMATAMENTO QUERÊNCIA MATO GROSSO  . FOTO: JF DIORIO/AE


Pesquisa sueca revela: aumento do consumo de carne e laticínios pode ter efeitos devastadores sobre clima. Mudança de hábitos alimentares deveria começar rapidamente

Por Taís González

O Painel Intergovernamental da Mudança do Clima (IPCC) afirma ser imperativo evitar que a temperatura da terra eleve-se em mais de 2ºC, em relação aos níveis pré-industriais. Para tanto, instituições como o Programa da ONU para Meio Ambiente (PNUMA) já haviam alertado para a necessidade de reduzir o consumo de proteínas animais. Agora, cientistas da Universidade de Tecnologia Chalmers, na Suécia, deram caráter preciso a esta recomendação. Um estudo recente realizado por eles calcula que, caso não haja mudanças na estrutura de produção e consumo dos alimentos humanos, as emissões de gases do efeito-estufa provenientes da pecuária (óxido nitroso e metano) podem dobrar, até 2070. Ela passará das 7,1 gigatoneladas, registradas em 2000, para 13 gigatoneladas, em 2070.

Os números importam muito. De acordo com a pesquisa, a criação de animais é responsável por 25 a 30% dos gases de efeito-estufa produzidos pela atividade do ser humano. Significa que, para alcançar a meta de limitar o aquecimento global em 2ºC e evitar as piores consequências das mudanças climáticas, não basta reduzir a queima de combustíveis fósseis.

“A mudança de dieta exite um longo tempo. Já deveríamos estar pensando em como tornar nossa alimentação menos perigosa para o clima”, afirmou Fredrik Hedenus, um dos autores do estudo. O cientista acredita que uma dieta vegana pode reduzir até 95% dos gases de efeito-estufa procedentes da alimentação (aqui, em sueco). Hedenus defende o imposto sobre o carbono para o setor pecuário, mas admite que esta é uma ação complexa. “O problema fundamental que temos hoje é que a pecuária não paga pelos seus custos climáticos. No entanto, é difícil taxar as emissões do setor, já que essas emissões consistem principalmente do metano dos estômagos do gado e do óxido nitroso dos campos.”

(Disponível em: http://outraspalavras.net/blog/2014/04/10/dieta-perigosa-para-o-planeta/)

domingo, 21 de julho de 2013

O Despertar da Felicidade

Estou maravilhado com os últimos anos de minha vida. Alguns muitos sonhos se realizaram, e essa máquina sonhadora permanece ainda a funcionar, gerando muitos outros.

Vejo minha vida, meu ser como uma estátua sendo lapidada pelo vento, pela maré, pelo sol, pela chuva, por outras e por si mesma. Mas não uma simples estátua, tal qual descreveu Michelangelo: "Bem vindo seja o sono, mais bem vindo o sono de pedra. Enquanto o crime e a vergonha permanecem em terra; Minha grande sorte, não ver ou ouvir; Não me acordem - por piedade, falem baixo." Sei que há muitos humanos - quiçá a maioria ou quase todos (ou seria isso um pré-julgamento estereotipado/preconceituoso?) - que são reais estátuas, em sono profundo. Ainda tenho dúvidas se nascemos realmente acordados ou se o estado de latência - mesmo aos berros do nascimento e tantos outros ao longo da vida - só é rompido pouco ou muito depois - ou nunca, a depender de quem se trate. O fato é que sou como uma estátua, em constante aperfeiçoamento, mas não dessas em sono profundo: uma estátua viva, no despertar.

Como disse Michelangelo, o sono de pedra garante não ver nem ouvir o crime e a vergonha. E é incrível como muitos passam a vida toda em sono de pedra, ignoram as mazelas sociais que a humanidade persiste ao longo de séculos e milênios. O despertar não é, inicialmente, agradável. Vai além da dor por compaixão ou do sentimento de pena: por isso, volta  e meia, todos passam - um exemplo que tenho claro para mim é o da alimentação vegetariana, pois não são poucos os "nossa, eu gostaria muito de ser vegetariano, fico super comovido ao ver como são os abatedouros, o sofrimento dos animais, mas simplesmente não consigo viver sem carne" que eu ouvi nesses cinco anos de vegetarianismo. Conheço muitas pessoas que também não conseguem viver sem o dinheiro, ou sem enganar as outras, ou sem enganar a si mesmas. Nos afundamos em vícios e isso denota a pior qualidade de uma estátua: sua inércia. Logo, esse protótipo de compaixão que leva à pena - inclusive por si mesmo - em nada caracteriza o despertar: este é muito mais que isso.

O início do despertar não é agradável porque ele torna clara a necessidade de mudança - e, com ela, os desafios e dores pelos quais terá de se passar. Mas não uma mudança qualquer: uma transformação de si. É como disse Tolstói em uma citação que eu gosto de repetir: "Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo." Muitas pessoas dizem não compactuar com a miséria e a fome do mundo, mas ignoram que seu estilo de vida alimenta essa situação: seja pela forma como adquire ou aplica seu capital, ou seja por muitas outras, como a alimentação que supracitei (para quem não sabe, o que se ingere de carne poderia alimentar milhares de pessoas se se investisse o mesmo de recursos para consumir vegetais). O sentimento inicial do despertar, portanto, é de desespero, inquietude, muitas vezes tristeza também - impotência quase sempre. Todavia isso é passageiro.

Tendo tomado consciência do que o cerca e de que uma mudança é necessária para se adaptar, os sonhos nascem e se fortalecem. E isso que difere uma estátua de pedra de uma estátua humana que se lapida: ela pode sonhar não só de olhos fechados, em sono profundo, mas também - e sobretudo - de olhos abertos e desperta, agindo fortemente em sua própria lapidação e ajudando as demais nas suas. Os sonhos delineiam as atitudes, o caminho. E o maravilhoso é que, pela própria inércia - talvez a mesma que deixa outras pessoas em sono de pedra infinito -, esses sonhos e realizações alimentam outros, então eles não atingem um fim por si só, mas constituem um caminho - talvez infinito - de aperfeiçoamento.

É um despertar contínuo, pois o primeiro passo depois de abandonar os grilhões da caverna é abrir os olhos. Porém são olhos ainda acostumados à escuridão da caverna e que doem ao ver e muitas vezes veem pouco. O tempo e a vontade de continuar o despertar é que definem a clareza do que se vê e o que se faz necessário para continuar e ver ainda mais, e fazer ainda mais. Ainda vendo com clareza, há um mundo todo para explorar. E depois do mundo há o universo - que dizem ser infinito.

Há uma série de desenho animado japonês chamada Ergo Proxy que trata exatamente disso e a qual me trouxe algumas das reflexões citadas nesta crônica. Ela trata de um mundo pós-apocalíptico, em que a humanidade abandonou a Terra porque não havia mais condições de existência e deixou alguns seres sobrenaturais que seriam responsáveis de cuidar de células de sociedade pelo mundo, em enormes redomas onde a vida era viável e garantida por meio de clones. A trama traz em si várias questões e metáforas filosóficas - e deixa isso claro logo em seu episódio primeiro, ao apresentar em seus personagens vários nomes de pensadores da Humanidade, tais quais Deleuze e Lacan. E é justamente sobre sair da redoma, conhecer o mundo que a cerca, desvendar as relações sociais e ocultas que construíram essas sociedades, descobrir quem são os Proxys - os seres sobrenaturais supracitados - e qual o sentido disso tudo.

Vi no filme A Profecia Celestina - baseado em livro homônimo -, logo em seu início, um professor de História, em uma sala de aula, com uma arte mostrando a longitudinalidade da evolução humana, desde o Big Bang, perpassando os dinossauros e chegando até os humanos, por fim, no modus vivendi atual em sociedade, cidades, etc. e que perguntava, ao final da ilustração "What's next?". O filme, tal qual o livro, ensina por meio de um insight da Profecia Celestina, que a vida mostra qual é o próximo caminho, que conduzirá à felicidade e realização. Ele fala de coincidências - que não são apenas acaso - as quais conduzem as pessoas. Mas, ao meu ver, além dessas coincidências - não nego que existam, embora eu não me preocupe com sua origem -, há os sonhos - eles definem o caminho do despertar. Então, o próximo passo é definido pelos sonhos que se alimentam naqueles que veem e que, coletivamente, conduzem à uma revolução social abrangente. Há sonhos coletivos também.

Meus sonhos têm me guinado no sentido de aprimorar as formas de relações interpessoais. Não escondo de ninguém que eu desejo a sociedade socialista - sempre friso: não aquela de Marx. E cada vez mais me aproximo de pensadores como Fourier e Owen, alimentando a convicção de que a sociedade não se muda pela economia tão somente - quiçá sejam causa e consequência uma da outra. Ela deve se transformar, sobretudo por si, por dentro de suas entranhas, pelas formas como as relações se estabelecem entre as pessoas. Por isso, não basta ter pena dos miseráveis que passam fome e morrem na África (ou mesmo no Brasil, por mais que muitos neguem isso): é preciso ter amor, como ensinou Jesus; é preciso se sentir um dos culpados disso; é preciso sonhar a mudança; e é preciso agir por ela. E eu ajo pelo socialismo, principalmente aquele que muda a sociedade por meio de suas relações internas, sutis, cotidianas. Esse tem sido o caminho que venho construindo com meus sonhos e o qual tem moldado meu ser, aperfeiçoando cada vez mais essa estátua que não é de pedra bruta.

E é por isso que estou maravilhado com os últimos anos de minha vida: eu estou permeando-a cada vez mais de sonhos e realizações. E cada vez desejo sonhar mais. Cada vez me preocupo menos com "ter", para "ser" e fazer" como modos de "servir": servir à minha felicidade e a tudo que me cerca também, sobretudo Àqu-le que me proporciona essa existência. E eu sinto que meus sonhos fazem parte de um plano maior, um sonho coletivo que culminará em uma nova sociedade. Meu caminho é este definido pelos meus sonhos e realizações, essa é minha história. E, apesar das dores e sofrimentos, as realizações e os sonhos do despertar são sensivelmente mais próximos daquilo que constrói a felicidade verdadeira: construir-se (aperfeiçoar-se) é construir sua própria felicidade.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Pesquisa Científica com Animais


“A pesquisa científica com animais é uma falácia”, diz o médico Ray Greek

Médico americano afirma que a pesquisa com animais atrasa o avanço do desenvolvimento de remédios

Por Marco Túlio Pires (VEJA)
"As drogas deveriam ser testadas em computadores, depois em tecido humano e daí sim, em seres humanos. Empresas farmacêuticas já admitiram que essa será a forma de testar remédios no futuro."
Arquivo Pessoal
Ray Greek
Ray Greek
Há 20 anos, Ray Greek abandonou o consultório para convencer a comunidade científica de que a pesquisa com animais para fins médicos não faz sentido. Greek é autor de seis livros, nos quais, sem recorrer a argumentos éticos ou morais,  tenta explicar cientificamente como a sua posição se sustenta. Em 2003 escreveu Specious Science: Why Experiments on Animals Harm Humans (Ciência das Espécies: Por que Experimentos com Animais Prejudicam os Humanos, ainda não publicado no Brasil) e o mais recente em 2009: FAQs About the Use of Animals in Science: A Handbook for the Scientifically Perplexed (Perguntas e Respostas Sobre o Uso de Animais na Ciência: Um Manual Para os Cientificamente Perplexos). Ele garante que sua motivação não é salvar os animais, mas analisar dados científicos.  
Além disso, Greek uniu esforços com outros médicos americanos e fundou a Americans for Medical Advancement, uma organização sem fins lucrativos que advoga métodos alternativos ao modelo animal. Em entrevista para VEJA, ele diz porque, na opinião dele, a pesquisa com animais para o desenvolvimento de remédios não é necessária.
O senhor seria cobaia de uma pesquisa que está desenvolvendo algum remédio?
Claro. Se a pesquisa estivesse sendo conduzida eticamente eu seria voluntário. Milhares de pessoas fazem isso todos os dias. Por vezes elas doam tecido para que possamos aprender mais sobre uma doença, em outros momentos ingerem novos remédios para o tratamento de doenças na esperança que a nova droga apresente alguma cura.

E se o medicamento nunca tivesse sido testado em animais?
A falácia nesse caso é de que devemos testar essas drogas primeiro em animais antes de testá-las em humanos. Testar em animais não nos dá informações sobre o que irá acontecer em humanos. Assim, você pode testar uma droga em um macaco, por exemplo, e talvez ele não sofra nenhum efeito colateral. Depois disso, o remédio é dado a seres humanos que podem morrer por causa dessa droga. Em alguns casos, macacos tomam um remédio que resultam em efeitos colaterais horríveis, mas são inofensivos em seres humanos. O meu argumento é que não interessa o que determinado remédio faz em camundongos, cães ou macacos, ele pode causar reações completamente diferentes em humanos. Então, os teste em animais não possuem valor preditivo. E se eles não têm valor preditivo, cientificamente falando, não faz sentido realizá-los.

Mas todos os remédios comercializados legalmente foram testados em animais antes de seres humanos. Este não é um caminho seguro?
Definitivamente não. As estatísticas sobre o assunto são diretas. Inclusive, muitos cientistas que experimentam com animais admitiram que eles não têm nenhum valor preditivo para humanos. Outros disseram que o valor preditivo é igual a uma disputa de cara ou coroa. A ciência médica exige um valor que seja de pelo menos 90%.

Esses remédios legalmente comercializados e que dependeram de pesquisas científicas com animais já salvaram milhões de vidas...
A indústria farmacêutica já divulgou que os remédios normalmente funcionam em 50% da população. É uma média. Algumas drogas funcionam em 10% da população, outras 80%. Mas isso tem a ver com a diferença entre os seres humanos. Então, nesse momento, não temos milhares de remédios que funcionam em todas as pessoas e são seguros. Na verdade, você tem remédios que não funcionam para algumas pessoas e ao mesmo tempo não são seguros para outras. A grande maioria dos remédios que existe no mercado são cópias de drogas que já existem, por isso já sabemos os efeitos sem precisar testar em animais. Outras drogas que foram descobertas na natureza e já são usadas por muitos anos foram testadas em animais apenas como um adendo. Além disso, muitos remédios que temos hoje foram testados em animais, falharam nos testes, mas as empresas decidiram comercializar assim mesmo e o remédio foi um sucesso. Então, a noção de que os remédios funcionam por causa de testes com animais é uma falácia.

Se isso fosse verdade os cientistas já teriam abandonado o modelo animal. Por que isso não aconteceu ainda? 
Porque o trabalho deles depende disso. Nos Estados Unidos, a maior parte da pesquisa médica é financiada pelo Instituto Nacional de Saúde [NIH, em inglês]. O orçamento do NIH gira em torno de 30 bilhões de dólares por ano. Mais ou menos a metade disso é entregue a pesquisadores que realizam experimentos com animais. Eles têm centenas de comitês e cada comitê decide para onde vai o dinheiro. Nos últimos 40 anos, 50% desse dinheiro vai, anualmente, para pesquisa com animais. Isso acontece porque as próprias pessoas que decidem para onde o dinheiro vai, os cientistas que formam esses comitês, realizam pesquisas com animais. O que temos é um sistema muito corrupto que está preocupado em garantir o dinheiro de pesquisadores versus um sistema que está preocupado em encontrar curas para doenças e novos remédios.

Onde estaria a medicina se não fosse a pesquisa com animais?
No mesmo lugar em que ela está hoje. A maioria das drogas é descoberta utilizando computadores ou por meio da natureza. As drogas não são descobertas utilizando animais. Elas são testadas em animais depois que são descobertas. Essas drogas deveriam ser testadas em computadores, depois em tecido humano e daí sim, em seres humanos. Empresas farmacêuticas já admitiram que essa será a forma de testar remédios no futuro. Algumas empresas já admitiram inúmeras vezes em literatura científica que os animais não são preditivos para humanos. E essas empresas já perderam muito dinheiro porque cancelaram o desenvolvimento de remédios por causa de efeitos adversos em animais e que não necessariamente ocorreriam em seres humanos. Foram bilhões de dólares perdidos ao não desenvolver drogas que poderiam ter dado certo.

Como as pesquisas deveriam ser conduzidas?
Deveríamos estar fazendo pesquisa baseada em humanos. E com isso eu quero dizer pesquisas baseadas em tecidos e genes humanos. É daí que os grandes avanços da medicina estão vindo. Por exemplo, o Projeto Genoma, que foi concluído há 10 anos, possibilitou que muitos pesquisadores descobrissem o que genes específicos no corpo humano fazem. E agora, existem cerca de 10 drogas que não são receitadas antes que se saiba o perfil genético do paciente. É assim que a medicina deveria ser praticada.  Nesse momento, tratamos todos os seres humanos como se fossem idênticos, mas eles não são. Uma droga que poderia me matar pode te ajudar. Desse modo, as diferenças não são grandes apenas entre espécies, mas também entre os humanos. Então, a única maneira de termos um suprimento seguro e eficiente de remédios é testar as drogas e desenvolvê-las baseados na composição genética de indivíduos humanos. Para se ter uma ideia, a modelagem animal corresponde a apenas 1% de todos os testes e métodos que existem. Ou seja, ela é um pedaço insignificante do todo. O estudo dos genes humanos é uma alternativa. Quando fazemos isso, estamos olhando para grandes populações de pessoas. Por exemplo, você analisa 10.000 pessoas e 100 delas sofreram de ataque cardíaco. A partir daí analisamos as diferenças entre os genes dos dois grupos e é assim que você descobre quais genes estão ligados às doenças do coração. E isso está sendo feito, porém, não o bastante. Há também a pesquisa in vitro com tecido humano. Virtualmente tudo que sabemos sobre HIV aprendemos estudando tecido de pessoas que tiveram a doença e por meio de autópsias de pacientes. A modelagem computacional de doenças e drogas é outra saída. Se quisermos saber quais efeitos uma droga terá, podemos desenvolvê-la no computador e simular a interação com a célula.

Mas ainda não temos informações suficientes para simular o corpo humano no computador...
Temos sim. Não temos informações suficientes para criar 100% do corpo humano e isso não vai acontecer nos próximos 100 anos. Mas não precisamos de toda essa informação. O que precisamos é saber como e do que um receptor celular é constituído — isso já sabemos — e a partir daí podemos desenvolver, no computador, remédios baseados nas leis da química que se encaixem nesses receptores. Depois disso, a droga é testada em tecido humano e depois em seres humanos. Antes disso acontecer, contudo, muitos testes são feitos in vitro e em tecidos humanos até chegar em um voluntário humano.

Um computador não é um sistema vivo completo. Como é possível garantir que essa droga, que nunca foi testada em animais, não será nociva aos seres humanos?
A falácia nesse argumento é que os macacos e camundongos, por exemplo, são seres vivos, mas não são seres humanos intactos. E esse argumento seria muito bom, se ele não fosse tão ruim. Drogas são testadas em macacos e camundongos intactos por quase 100 anos e não há valor preditivo no sentido de dizer quais serão os efeitos da droga no ser humano. O que essas pesquisas têm feito, na verdade, é verificar o que essas drogas causam em macacos e em seres humanos separadamente e não há relação. Por isso, o que dizem é meramente retórico, não há nenhuma base científica.

O senhor já fez experimentos com animais. O que o fez mudar de ideia?
Meu posicionamento mudou apenas uma década depois que terminei a faculdade de medicina. Minha esposa é veterinária e comecei a notar como tratávamos nossos pacientes de maneira muito diferente. Comecei a notar também que alguns remédios funcionam muito bem em animais, mas não funcionam em humanos e algumas drogas funcionam em humanos, mas não podem ser usadas em cães, mas podem ser usadas em gatos e assim por diante. Não estou dizendo que os animais e os humanos são exatamente opostos, não é isso. Eles têm muito em comum.

A semelhança genética de 90% entre humanos e camundongos não é suficiente? 
Aparentemente não. Porque os dados científicos dizem que não. Não me interessa se somos suficientemente semelhantes aos animais para fazer testes neles ou não. A minha interpretação é científica. E a ciência diz que não somos. Na minha experiência clínica isso é verdade porque não conseguimos prever nem quais serão os efeitos de um remédio no seu irmão, realizando testes em você. Algumas drogas que você pode tomar, seu irmão não pode, por exemplo. Contudo, eu não sou contra todo tipo de experimento com animais. É possível recorrer aos animais para utilização de algumas partes. Por exemplo, podemos utilizar a válvula cardíaca de um porco para substituir a de seres humanos. Além disso, é possível cultivar vírus, insulina, mas isso não é pesquisa. O fracasso está em utilizar modelos animais para prever o que irá acontecer com um ser humano. Um ótimo exemplo disso é a Aids. Os animais não desenvolvem essa doença, de jeito nenhum. Eles sofrem de doenças parecidas com a Aids, mas por causa de vírus completamente diferentes. E os sintomas são muito diferentes dos manifestados em pacientes aidéticos. Por isso, não há correlação.

O senhor é contra o eventual sacrifício de animais em pesquisas científicas com o objetivo de salvar milhões de vidas humanas? 
Eu não tenho nenhum problema com isso. Meu problema com pesquisa animal não é de cunho ético e sim, científico. É como dizer que estamos em um cruzeiro atravessando o oceano Atlântico e um indivíduo cai na água e está se afogando. Ele precisa é de um salva-vidas mas não temos nenhum, então vamos arremessar 1.000 cães na água. Por que arremessar os cães na água já que eles não vão salvar a vida da pessoa? Você pode construir um argumento ético dizendo que é aceitável afogar esses cães mas o que eu quero dizer é que a pessoa precisa de um salva-vidas e não 1.000 cães afogados. E é exatamente isso que estamos fazendo com a pesquisa animal. Estamos matando cães pelo bem de matar cães. Não porque matá-los irá trazer a cura para doenças como a Aids ou o Alzheimer.

Diplomacia Vegan


Diplomacia Vegan  
Do livro Becoming vegan 
Brenda Davis e Vesanto Melina

Tornar-se vegan pode ser uma viagem espiritual, emocional e física profunda e recompensadora. Como sabe qualquer viajante, estar preparado para situações difíceis pode tornar a jornada menos atemorizante. Em outros capítulos, o foco é a nutrição e como obter uma boa dieta vegan. Aqui, estudamos soluções inteligentes para os desafios da interação humana.
Como vegan, sua opção alimentar tem impactos imensos: a preservação de recursos em extinção, vigorosa proteção da saúde e redução dramática da dor e do sofrimento dos animais. Há poucas opções na vida que ofereçam resultados tão positivos e diferentes. Isso é o bastante para que você queira levar a boa nova a todo o mundo não vegan! No passado, quando você ficava entusiasmado assim com uma descoberta, seus pais, irmãos e amigos alegravam-se e comemoravam com você. Agora, em vez de ficarem contentes, podem tornar-se distantes e defensivos. As próprias pessoas com quem você mais quer compartilhar suas descobertas vêem essas mudanças como uma intrusão em sua cultura e uma afronta ao relacionamento de vocês.
Tornar-se vegan desafia os fundamentos de nossa sociedade, e isso deixa as pessoas pouco à vontade. Devido a esta realidade, sua interação dependerá bastante de sua atitude e de sua abordagem. Embora haja lugar para ferro e fogo, este estilo funciona melhor quando você estiver pregando aos já convertidos. Para os outros, um pouquinho de diplomacia vegan faz muito mais efeito!
O QUE É DIPLOMACIA VEGAN?
A diplomacia é a arte de honrar seus próprios princípios éticos e sua consciência social sem julgar, condenar ou ofender outra pessoa. Depende em grande medida de uma comunicação eficaz. Como as pessoas que seguem um estilo de vida vegan aspiram a praticar a "inofensividade", para ser um diplomata vegan é preciso evitar insultos, desprezo e intimidação em sua interação com os outros.
Numa sociedade que explora animais para tudo, da pasta de dentes ao lazer, é possível ser um vegan diplomático?
Sim. E é não apenas possível; é um conjunto valiosíssimo de habilidades que um vegan deve adquirir. Enquanto ser vegetariano, muitas vezes por razões de saúde, é amplamente compreendido e aceito, tornar-se vegan é como trazer um desafio de nível mais alto, porque é quase inevitável que surjam considerações éticas. Algumas pessoas respeitarão sua decisão e sua integridade pessoal. Outras provavelmente vão sentir-se ameaçadas, seja qual for a sua intenção.
Sua clareza, entusiasmo e humor gentil também serão importantes para estimular as pessoas sem que elas se sintam julgadas ou, de alguma forma, ameaçadas. No entanto, há ocasiões em que você deve optar por não ser diplomático, e não há problema algum nisso. Talvez um colega tenha esfregado aquele bife imenso na sua cara pela última vez. Todos já fomos submetidos a comentários ou ações impensados que nos isolam, ridicularizam ou ofendem. Quando isto acontece, é muito tentador ser bem antidiplomático em nossa reação. Às vezes é isso mesmo que é necessário para que o outro lado realmente escute o que você está dizendo.
Saiba que não há jeito certo nem errado de lidar com cada uma das situações desagradáveis. Tanto a gentileza quanto o choque podem ser eficazes na comuniçação de pensamentos e sensações. No entanto, considere o porquê de outras pessoas reagirem de forma tão negativa por você ter-se tornado vegan. Talvez  seja porque isso as obriga a examinar suas próprias opções quando têm tantas outras coisas em que pensar, o que as torna muito defensivas ou as deixa pouco à vontade.
Esta situação e este desafio estão presentes nas palavras do dr. Albert Schweitzer, um dos maiores humanitários de todos os tempos:
"O homem capaz de pensar deve opor-se a todos os costumes cruéis, não importa quão profundamente enraizados na tradição e cercados por um halo. Quando tivermos opção, devemos evitar levar tormento e dor à vida de outrem, mesmo à criatura mais reles; mas fazê-lo é renunciar à nossa virilidade e suportar uma  culpa que nada justifica."
COMO DOMINAR A ARTE DA DIPLOMACIA
Então como é que a gente se torna um vegan diplomático? Basta lembrar a si mesmo que ser vegan é, na verdade, reverenciar a vida. Recorde a essência do Ahimsa, citada no capítulo 1 - inofensividade dinâmica. É a participação ativa para não prejudicar e não ferir seres humanos e animais. Com estes princípios a guiar suas palavras e ações, a diplomacia torna-se automática. Contudo, para muitos de nós a diplomacia não vem com tanta naturalidade. Se você está entre os "diplomaticamente prejudicados", eis aqui algumas diretrizes simples que talvez lhe sejam úteis.
Diretrizes para os diplomaticamente prejudicados
Não façais aos outros...  Você já sabe. Vamos admitir, esta é a regra de ouro e o núcleo da diplomacia. Se você quer que seu irmão respeite suas convicções mais profundas a respeito de questões animais, terá de respeitar convicções mais profundas dele sobre religião, política ou o que quer que o apaixone. (Isso não significa que vocês tenham de concordar!)
Não julgue.  Julgar implica aprovar ou desaprovar convicções, afirmações etc. de alguém. Em geral assume a forma de crítica, xingamento, rotulagem ou análise. Quando você faz isso, sabota a comunicação e, em geral, acaba tornando a outra pessoa defensiva ou ressentida. Os julgamentos geralmente envolvem frases com "você", tais como: "Você tem a mente tão fechada." Em vez disso use frases com "eu", como "Sinto-me ignorado quando você deixa de prestar atenção em mim toda vez que falo sobre alimentos animais." Frases afirmativas com  "eu" ajudam a transformar expressões muito negativas em demonstrações honestas de seus sentimentos e sensações.
Evite a mentalidade "Sou bom, você é mau".  Quando você classifica as pessoas em "boas e más" ou "santos e pecadores", sabota todas as oportunidades de comunicação eficaz. Moralizar raramente resulta em outra coisa senão resistência. A maioria das pessoas deseja, sinceramente, fazer a coisa certa, mas nem sempre isso é fácil, dadas suas circunstâncias atuais. Sempre dê às pessoas o benefício da dúvida, e aprecie o bem que fazem.
Ouça com o coração.  Muita gente pode escutar, poucas ouvem de verdade. Ouvir envolve mais que o processo fisiológico sensorial que envia mensagens auditivas ao cérebro. Exige um passo adiante rumo ao coração, onde ocorre o envolvimento psicológico com a outra pessoa. Ouvir com eficácia envolve refletir de volta os pensamentos e sensações da pessoa com quem você fala, mas também significa estar atento, ter contato visual apropriado, ter noção de sua linguagem corporal e não questionar tudo o que é dito. Ouvir com o coração lança as bases da confiança e do respeito entre duas pessoas.
Seja determinado.  Determinação é proteger seu espaço pessoal e seus compromissos éticos e sociais de uma forma que não seja destrutiva para você ou para outras pessoas. Ela lhe permite viver sua própria vida, defender-se e atender a suas necessidades, respeitando, ao mesmo tempo, os que o circundam. Ser determinado é bem diferente de ser submisso, atitude que indica que você na verdade não importa e que seus sentimentos não têm significado. As pessoas submissas podem exprimir-se, mas fazem-no como se pedissem desculpas e, como resultado, raramente são levadas a sério. Em contraste, os indivíduos agressivos exprimem seus sentimentos às custas dos outros. Freqüentemente são considerados controladores, rudes, dominadores, violentos ou ofensivos.  A agressão só serve para alienar as pessoas. Ela cria medo, hostilidade e raiva, e não encoraja as pessoas a levarem em conta seu ponto de vista.
Seja genuíno.  Ser genuíno significa ser autêntico; é exatamente o contrário de ser falso. A genuinidade significa ter consciência de seus próprios sentimentos, aceitar esses sentimentos e compartilhá-los de forma responsável. Quando você é genuíno, permite que as pessoas se liguem a você num terreno sem arestas. Você remove a ameaça e o medo de sua interação.
Cultive a empatia.  A empatia é importantíssima para compreender verdadeiramente outra pessoa. Ela lhe permite pôr-se no lugar do outro ou ver por meio de seus olhos, sem perder o senso de si mesmo. A empatia exige sensibilidade. Ela faz com que as pessoas sintam-se aceitas e compreendidas. Promove mudanças construtivas. Quando alguém age ou pensa diferente de você, pode haver a tentação de distanciar-se; no entanto, é a conexão que encoraja a mudança. Empatia é diferente de simpatia; esta última coloca o receptor numa posição inferior.
Comemore todos os pequenos passos na direção certa. 
Todos nós estamos em posições muito diferentes na vida. Para alguns, a idéia de abandonar totalmente os sorvetes parece insuportável. Para outros, evitar a quantidade mais minúscula de subprodutos animais no pão ou no xampu é como uma segunda natureza. Se queremos encorajar uma mudança maciça da tendência dominante rumo às dietas baseadas em vegetais, temos de encorajar cada passinho das pessoas na direção certa. Em vez e nos concentrarmos em sua incapacidade de recusar as panquecas de morango da tia Edite, precisamos comemorar seu sucesso ao trocar o leite de vaca por leite de soja. Quando alguém lhe diz que quase não come mais carne (mesmo que você saiba que essa pessoa vai ao McDonald's duas vezes por semana), reconheça que ela está tentando conectar-se a você. Agarre a oportunidade para compartilhar com ela alguma história edificante, ou ofereça-se para emprestar-lhe um livro. Construir pontes funciona muito melhor do que queimá-las quando seu objetivo é ajudar as pessoas a cruzarem o rio para o seu lado. 
Transforme seu exemplo em seu aliado mais poderoso.
De todas as ferramentas à sua disposição, nenhuma é tão poderosa quanto seu exemplo. É difícil alguém defender que a dieta vegan é perigosa quando você é a única pessoa do escritório que não tem um problema grave de saúde, tal como pressão alta, colesterol alto ou diabete. Os mitos sobre os problemas os vegans para obter proteína vão evaporar se você for a pessoa com melhor preparo físico de seu círculo de amigos ou de colegas de negócios. Em vez de tentar convencer alguém de que os alimentos vegans são deliciosos, convide-o para jantar ou traga algo especial para a festa da empresa. É espantoso o que se pode conseguir sem dizer quase nada.
Explique as coisas com respeito.
Dizer às pessoas que você não come nem usa produtos animais pode ser uma tarefa atemorizante. A comida é o ponto central na maioria das comemorações e tradições. Compartilhar uma refeição é uma forma importante de ligar-se aos outros. Os membros da família podem temer que você esteja rejeitando ou condenando os valores com os quais foi criado. Seus amigos podem sentir-se pouco à vontade porque não sabem mais como relacionar-se com você. Sua opção alimentar pode provocar uma série de sentimentos, incluindo culpa, tristeza e raiva. Mas com o tempo sua revelação pode levar a uma nova intimidade e um compartilhamento mais profundo do que nunca. A chave do resultado positivo é o respeito. Ainda que seu mundo seja quase totalmente não vegan, está povoado de gente que tenta, a seu próprio jeito, fazer do mundo um lugar melhor. Se você quer partilhar com os outros suas descobertas, vai ajudar se você também reservar tempo e espaço para as respostas deles e para a expressão de seus valores mais profundos. Essas sugestões podem ajudar.

  • Escolha uma hora em que ambos estejam relaxados e de bom humor, em vez do momento em que acabaram de discordar ou estão cansados. 
  • Se a comunicação verbal for difícil, escreva uma carta bem meditada. 
  • Compartilhe o que se relaciona ao seu compromisso e como ele afeta sua vida. 
  • Torne mais fácil as refeições em comum: leve sua própria comida, ou preparem juntos refeições vegans. 
  • Informe aos outros o que você come e o que você não come. Uma lista, verbal ou escrita, pode incluir: Como cereais, legumes, frutas, feijões, tofu, substitutos vegans da carne, nozes, castanhas e sementes. Não como carne bovina, aves, peixe, laticínios, ovos, gelatina e mel. 
  • Mudanças no coração e na alma raramente acontecem do dia para a noite, mas acontecem. Exprima sua satisfação com a consideração demonstrada pela outra pessoa a seu respeito. 

SITUAÇÕES ENROLADAS
Não há dúvida que você vai se ver em situações que são um pouco mais que desconfortáveis. Sua reação vai depender, pelo menos em parte, do ponto em que você está no caminho para tornar-se vegan. Com o tempo, você vai se transformar num especialista em vários tipos de situação. De início você pode apenas evitar tudo o que seja claramente derivado de animais, como o queijo do macarrão ou os ovos da salada. Mais tarde, você pode dar mais atenção aos rótulos dos alimentos, e eliminar também subprodutos animais, como a caseína do queijo de soja. Você pode optar por só comer alimentos vegans em casa, mas não ser tão cuidadoso quando jantar fora. Finalmente, você pode decidir que prefere passar fome a comer qualquer coisa que tenha o menor traço de produto animal. As seguintes situações são familiares a quase todos nós, de um jeito ou de outro. As opções sugeridas não pretendem ser respostas certas ou erradas, mas sim escolhas que podem ser adaptadas à sua situação.
Os ingredientes animais ocultos ou nem tanto 
Sua tia convidou-o para almoçar na casa dela. Ela lhe garante que toda a comida será vegan e serve uma deliciosa sopa de legumes e pão feito em casa. Você come com prazer o seu almoço e está na última colherada de sopa quando percebe um pedaço de galinha no fundo do prato. Quando você lhe pergunta o que é isso ela diz: "Espero que não se importe, achei melhor jogar na sopa um ossinho de galinha. Não é carne de verdade, é só um ossinho." Você...
a) diz a ela que não se preocupe, e passa a evitar todas as atividades com esta tia que sejam ligadas a comida; 
b) grita com ela para que nunca mais cometa este erro; 
c) diz a ela que vegans não comem nenhum resíduo de carne e dá a ela algum bom material para leitura. 
RESULTADO PROVÁVEL:
a) Dizer a ela que não se preocupe: Ela continuará sem entender o que é esse troço de ser vegan e/ou a acreditar que é apenas mais uma dieta da moda. Você tem de avaliar a situação segundo a personalidade da pessoa com quem está lidando. Se acredita que não adianta o que você faça ou diga porque nada mudará a forma com que ela vê as coisas, então esta opção é razoável.
b) Gritar com ela: Ela vai pensar que você é um ingrato e vai riscar você do seu testamento. Xingar só serve para afastar sua tia, colocá-la na defesa o tempo todo e pode até causar divisão na família.
c) Explicar o que é vegan: Ela compreenderá um pouco melhor o que é ser vegan e apreciará sua dedicação à causa. Pode até sentir-se inspirada a mudar para uma dieta baseada em mais vegetais depois de ler textos adequados.
Ser determinado mas respeitoso é sua melhor escolha neste tipo de situação. Para evitar perder completamente a parada, faça consigo mesmo um rápido exercício de empatia. Por que acha que sua tia usou um osso de galinha na sopa que ela chamou de "vegan"? Acha que foi um ato de maldade ou só ignorância da parte dela? Suponha que suas intenções tenham sido as melhores possíveis. Ela queria mesmo almoçar com você. Por que pôs o osso na sopa? Provavelmente porque temia que, caso não usasse o osso, a sopa não ficasse suficientemente gostosa para seu convidado. Você só precisa explicar-lhe que toda carne, inclusive subprodutos da carne, são inaceitáveis para você, e dizer-lhe por quê. Faça isso com jeitinho. Ofereça-se para lhe emprestar um vídeo ou um livro, para que ela compreenda melhor a sua opção.  
Feliz aniversário!
Há duas semanas, quando começou no novo emprego, você decidiu que evitaria divulgar imediatamente seu programa de defesa dos animais (mas esperaria cerca de um mês, até que gostassem de você). Você nunca suspeitou que seu chefe iria procurar o dia do seu aniversário na sua ficha de inscrição. Naquele dia especial, todos no escritório o surpreendem com um enorme e lindo bolo com seu nome escrito. Seus colegas acendem as velas e começam a cantar "Parabéns pra você". Você...
a) come o bolo e não diz nada; 
b) diz a eles que está com dor de barriga e pede para levar um pedaço do bolo para casa; 
c) conta a eles que está muito feliz com a lembrança, mas que é vegan. 
RESULTADO PROVÁVEL:
a) Comer o bolo: Depois virá o sorvete, e aí o frango assado. Já entendeu, né? Você pode escolher esta opção caso não se incomode de comer um tiquinho de ovos e laticínios de vez em quando. Contudo, se quer evitar os produtos animais comer o bolo será um tiro pela culatra. Ao não revelar aos colegas que você não quer comer esses alimentos, dirá que sua escolha não tem importância. Estará sendo submisso e não determinado, e isso vai sabotar sua integridade e o respeito dos colegas por você.
b) Dor de barriga: Você vai comprometer a confiança e o respeito que os colegas sentem por você. Ser desonesto a respeito de suas crenças éticas sugere que você tem vergonha delas, sente-se embaraçado ou não está certo delas. A honestidade é importante para conquistar o respeito, parte essencial das conexões com outras pessoas.
c) Você é vegan: Seus colegas podem surpreender-se, mas vão gostar que tenha sido honesto com eles desde o princípio. Se você está realmente resolvido a ser vegan, esta é sua única opção. A maneira de dar a notícia é importante. Em primeiro lugar, agradeça o presente e a amizade de seus colegas. Admita que errou ao não lhes dizer nada antes, talvez rindo ou brincando. Não vão sentir-se rejeitados quando sentirem seu entusiasmo genuíno e quando você desviar a atenção do bolo para o círculo de pessoas à sua volta.
Jantar de Ação de Graças 
Na sua família, o jantar de Ação de Graças é um grande acontecimento. No passado, sempre envolvia um peru de 9 quilos, acompanhamentos, molho de cranberry, purê de batatas, caçarola de batatas-doces, molho de carne, couve de Bruxelas, cenouras caramelizadas, salada Waldorf, picles feitos pela mamãe, torta de abóbora e creme batido. Só dois itens sempre foram vegans: os picles e o molho de cranberries! Até a couve de Bruxelas é regada com manteiga. Ficou desconfortável para você participar da refeição. Vários amigos vegans se reúnem para celebrar a vida com uma abóbora recheada ou com um "peru" de tofu; este ano você preferiria passar com eles o dia de Ação de Graças. Você...
a) vai ao jantar da família porque sabe que seus pais ficarão zangadíssimos se você não aparecer. Leva sua marmitinha e pede à mamãe para deixar de lado umas batatas e couves de Bruxelas antes de colocar o leite e a manteiga; 
b) vai ao jantar da família, mas leva um prato principal (abóbora recheada ou "peru" de tofu), molho vegetariano e salada; 
c) diz à família que não se sente bem participando de refeições com carne como prato principal, mas que gostará de participar de atividades sem comida; 
d) diga que vai participar do jantar de Ação de Graças dos amigos, mas que adoraria fazer uma visitinha. 
RESULTADO PROVÁVEL:
a) Ir e levar marmita: Você vai se sentir mal, a família vai perceber seu mal-estar e todos ficarão pouco à vontade. As refeições familiares estão entre as situações mais difíceis de enfrentar, seja Ação de Graças, Páscoa, Natal, Hanukah, aniversário ou bodas de alguém ou outras reuniões de família. É compreensível que você queira participar desses eventos e ao mesmo tempo honrar seus direitos e valores. Pense em coisas que o deixarão mais à vontade. Isso ajudará sua família a respeitar seus compromissos éticos.
b) Ir de qualquer jeito, mas levando deliciosa comida vegan: Isso pode lhe dar a sensação da comemoração e impressionar seus parentes com o sabor delicioso da sua comida. Será um bom meio-termo caso você se disponha a participar de uma refeição na qual se serve carne.  (Caso contrário, esta não é uma opção viável.) Ao dar uma boa contribuição, você não se sentirá isolado e carente. Sua família conhecerá a maravilhosa comida vegan, pode acrescentá-la a futuras festas ou mesmo, com o tempo, vir a preferir pratos vegans. Esta opção mantém as portas abertas e pode atingir sua família de um jeito que você nunca sonhou.  
c) Ninguém mais come com você: Isso pode causar algumas dificuldades no relacionamento familiar e ser considerado uma rejeição pessoal. Para alguns vegans, é a única opção com a qual conseguem conviver. Você conhece sua família suficientemente bem para adivinhar como é que vão reagir. De início pode parecer  que, para comemorarem juntos, você terá de ficar perto da carne. No entanto, podem surgir soluções: comida judaica vegan durante o Hanukah, comida chinesa vegan na véspera de Natal ou no Ano Novo ou um lanche de Páscoa com waffles vegans, molhos de frutas frescas e um passeio depois. Há muitas formas de mostrar à família como ela é importante para você.
d) Jantar com amigos este ano. Você vai sentir-se menos estressado e sua família também ficará bem. Isso depende tanto da maneira como você diz as coisas quanto daquilo que você diz. Ao contar à família os seus planos, seja positivo e genuíno. Compartilhe seu entusiasmo com esta comemoração vegan. Fale-lhes do cardápio e de sua contribuição. Às vezes, parentes mais velhos podem ser incluídos nesta refeição ou numa futura ida a um restaurante vegetariano. Eles podem ficar muito contentes de encontrar seus amigos.
Transição difícil para uma dieta vegan 
Há dois meses, do dia para a noite, você se tornou praticamente vegan depois de comparecer a uma palestra sobre a ética da alimentação. Antes disso, Sarah, sua filha de nove anos, foi criada como qualquer outra criança não vegetariana. Seus alimentos favoritos são sundaes, McNuggets, batatas fritas, pizza de presunto com abacaxi e refrigerante sabor laranja. Sarah entende por que você quer ser vegan, mas não ficou muito satisfeita com a comida. Ela não gosta do leite de soja que você compra, por isso come seus flocos de milho puros. E não gosta do tofu que você põe no molho do espaguete, por isso come o espaguete puro também. Você está preocupado porque, embora a saúde tenha sido parte da razão que o levou a tornar-se vegan, a dieta de Sarah está pior do que antes. Pelo menos, quando havia leite e carne na geladeira Sarah ingeria cálcio e proteína. Ela vem pedindo a você que compre queijo e leite para ela comer com seus flocos de milho. Você...
a) Concorda em comprar leite e queijo sem renina para ela; 
b) Diz que ela pode comer o que gosta quando sair, mas que a comida em casa é estritamente vegan;  
c) recusa-se a permitir que ela coma qualquer tipo de alimento de origem animal. 
RESULTADO PROVÁVEL
a) Comprar leite e queijo: Sarah está mais satisfeita; mas você não está nada contente de comprar e ter em casa alimentos que não são vegans. É difícil para qualquer um fazer uma mudança súbita, e ainda mais difícil quando a escolha não é da pessoa. Permitir a Sarah ajustar-se seguindo seu próprio ritmo vai ajudá-la a sentir-se menos ressentida. Há uma boa possibilidade de que, daqui a algum tempo, Sarah abandone esses alimentos. Embora seus sentimentos estejam confusos, é importante que Sarah tenha o controle de suas opções alimentares.
b) Vegan em casa: Sarah pode querer comer fora mais vezes; no entanto, você pode contrabalançar isso incorporando pratos vegans novos e gostosos em sua dieta cotidiana. Isso dá a Sarah algum controle sobre suas opções e ela vai apreciar que você respeite seus direitos. Para tornar mais fácil a transição:
  • Faça versões vegan de seus pratos prediletos. Em vez de flocos de milho, compre pãezinhos, manteiga de amendoim ou nozes e geléias de frutas; em algumas manhãs faça panquecas vegan, tofu mexido, bacon vegetariano, bolinhos recheados de frutas, salada de frutas ou Quick Shakes (página 240). Use peru vegetariano, carne de soja à bolonhesa ou presunto de soja nos sanduíches.  Para o lanche da escola mande nozes, frutas secas, pudim ou iogurte de leite de soja. "Veganize" seus pratos prediletos usando carne de soja em vez de tofu no molho do espaguete e nas tortas de carne. Experimente os hambúrgueres vegetarianos (conhecemos mais de 30 tipos diferentes), salsichas vegetarianos e pãezinhos frescos. Faça batatas fritas de forno e legumes frescos com molho como acompanhamento. Compre tofu marinado e asse-o no forno até ficar crocante. 
  •  Encoraje Sarah a se tornar sua ajudante na cozinha. Isso vai ajudar a aumentar seu interesse e seu prazer com a comida. 
  • Não exagere ao eliminar os alimentos divertidos. Já é duro o bastante ser quase vegan no meio de amigos que adoram cheeseburger; ajude-a a descobrir opções vegans nos shoppings: batatas fritas, pasta de grão de bico, panquecas de verdura. 

c) Vegan sem opção - Sarah vai sentir-se muito ressentida com seu novo estilo de vida e talvez se revolte contra ele. Você já sabe como é. Grandes ou pequenas, as pessoas não gostam de ser controladas. Proibir seus alimentos prediletos pode torná-los mais atraentes. Provavelmente será melhor chegar a um acordo com o qual vocês dois possam conviver. Certamente você encontrará muitas variações desses desafios. Com a experiência, sua habilidade de reagir vai aumentar. Por sorte, o mundo está se tornando mais amigável para os vegans, oferecendo uma miríade de recursos descritos nas páginas 270 a 273.
Idéias finais 
Quando suas escolhas cotidianas são feitas com reverência pela vida e respeito pela ligação entre todas as coisas, este mundo torna-se um lugar melhor. É simples assim.


Tradução: Beatriz Medina  

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Albert Einstein

"A ordem de vida vegetariana, por seus efeitos físicos, influenciará o temperamento dos homens de uma tal maneira que melhorará em muito o destino da humanidade. "
Albert Einstein

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