Esta é a edição do meu artigo que foi publicada hoje 25/06/13 no Diário Catarinense, já com uma correção importante sobre o dado apresentado acerca do orçamento federal, que estava desatualizado na edição do jornal.
A saúde não pode ser importada.
Lucas Cardoso da Silva*
Divulgou-se recentemente a notícia
de que o governo brasileiro importará médicos para trabalhar no interior do
Brasil. Há algo ignorado nas discussões sobre isso, muito além de politicagem eleitoreira,
corporativismo ou desinformação: o subfinanciamento do SUS (aproximadamente 4%
do orçamento do governo federal são dedicados à saúde).
Por que não investir o dinheiro de
aplicações questionáveis – entre muitas outras, a importação de médicos - na
formação de médicos brasileiros? Não só abrir mais escolas médicas, mas
oferecer cursos de qualidade realmente voltados para a formação de médicos
generalistas para a atenção básica no SUS, preparados e motivados para
trabalhar no interior – o que o CREMESP não avalia em seu exame, aliás. A
educação médica deficitária e a pouca experiência profissional são ignoradas
também no PROVAB, que estimula médicos recém-formados a trabalhar no interior,
pois ao governo só interessa atingir os “níveis de cobertura”, valiosos em
períodos eleitorais.
Para a população em geral: mais
médicos, melhor a saúde. No entanto, consoante a Constituição Cidadã, saúde
envolve condicionantes muito além do papel do médico: saneamento básico,
educação, moradia, meio ambiente, entre outras. E de que vale um médico sem
condições de trabalho? Além de salário digno, sobretudo ambiência:
infraestrutura adequada, materiais para procedimentos, exames complementares,
equipe multiprofissional.
Não é, portanto, coerente e
desvinculada de mitos e interesses eleitoreiros esta política que desconsidera
a saúde pública como uma construção interna e consolidada do País - pautada na
valorização do profissional, da ambiência e da educação médica – e ignora seu
subfinanciamento. Diferente do que tratam nossos governantes: a saúde não pode
ser importada.
*Lucas Cardoso da Silva é estudante de Medicina na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Vice Coordenador Discente da
Regional Sul 2 da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) e articulador
da Rede Sustentabilidade em Santa Catarina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário