Há dois ditos populares que podem nos ajudar a discutir o tema dos
exames preventivos ou do check-up, um dos principais motivos de consulta
nos dias de hoje. Um dos ditados é o de que é “melhor prevenir do que
remediar” e o outro nos lembra que o “melhor é não mexer no que está
quieto”. O primeiro conselho tem sido bastante lembrado por todos
aqueles que desejam fazer muitos exames todos os anos e o último costuma
ser recordado por aqueles que fogem dos consultórios médicos. Acho que
vale a pena discutir com mais calma esses dois enunciados.
A noção de prevenção de doenças não é nova, todo agrupamento humano
desenvolveu ao longo de sua história mecanismos individuais e coletivos
para se proteger de agravos conhecidos. Assim foi com o fornecimento de
água limpa e com a implantação dos banhos públicos na Roma Antiga, por
exemplo.
A novidade da medicina moderna não é, portanto, a ideia de atacar a
causa antes do problema surgir, prática muito antiga, mas a utilização
de exames (como os de glicose, colesterol, mamografia, etc.) em
indivíduos sem sintomas para o diagnóstico precoce de doenças. O
problema é que as possibilidades tecnológicas dessa medicina nos dão a
falsa ilusão de que a realização de testes diagnósticos regulares que
vasculhem o corpo em busca de anomalias é a única e infalível forma de
prevenção.
É fácil combater essa ilusão. Sabemos que os países que mais gastam
com exames não têm os melhores resultados em saúde, sabemos que as
populações que têm mais acesso a exames laboratoriais e a aparelhos de
imagem (como tomografias, ressonâncias ou cateterismos) não previnem
mais cânceres ou infartos do coração do que aqueles países que têm uma
quantidade racional desses equipamentos.
O que é ainda pior é que esse exagero na prevenção por meio de exames
costuma provocar o efeito contrário do desejado, que é o de submeter
pessoas sem nenhum sintoma ou mal-estar a procedimentos arriscados e
desnecessários. Um exemplo é o do câncer de mama, de cada 1000 mulheres
que fazem a mamografia anualmente dos 40 aos 50 anos, uma terá um câncer
identificado (mas não necessariamente curado) e outras 20 retirarão a
mama ou parte dela sem necessidade.
Por isso, respeitadas instituições de saúde como o americano United
States Preventive Service Task Force (USPSTF) ou o britânico United
Kingdom National Screening Comitte recomendam a realização da mamografia
somente a partir dos 50 anos de 2 em 2 anos (à exceção daquelas
mulheres com história familiar de primeiro grau, ou seja, câncer de mama
em mãe ou irmã antes dos 50 anos).
nos dias de hoje. Um dos ditados é o de que é “melhor prevenir do que
remediar” e o outro nos lembra que o “melhor é não mexer no que está
quieto”. O primeiro conselho tem sido bastante lembrado por todos
aqueles que desejam fazer muitos exames todos os anos e o último costuma
ser recordado por aqueles que fogem dos consultórios médicos. Acho que
vale a pena discutir com mais calma esses dois enunciados.
A noção de prevenção de doenças não é nova, todo agrupamento humano
desenvolveu ao longo de sua história mecanismos individuais e coletivos
para se proteger de agravos conhecidos. Assim foi com o fornecimento de
água limpa e com a implantação dos banhos públicos na Roma Antiga, por
exemplo.
A novidade da medicina moderna não é, portanto, a ideia de atacar a
causa antes do problema surgir, prática muito antiga, mas a utilização
de exames (como os de glicose, colesterol, mamografia, etc.) em
indivíduos sem sintomas para o diagnóstico precoce de doenças. O
problema é que as possibilidades tecnológicas dessa medicina nos dão a
falsa ilusão de que a realização de testes diagnósticos regulares que
vasculhem o corpo em busca de anomalias é a única e infalível forma de
prevenção.
É fácil combater essa ilusão. Sabemos que os países que mais gastam
com exames não têm os melhores resultados em saúde, sabemos que as
populações que têm mais acesso a exames laboratoriais e a aparelhos de
imagem (como tomografias, ressonâncias ou cateterismos) não previnem
mais cânceres ou infartos do coração do que aqueles países que têm uma
quantidade racional desses equipamentos.
O que é ainda pior é que esse exagero na prevenção por meio de exames
costuma provocar o efeito contrário do desejado, que é o de submeter
pessoas sem nenhum sintoma ou mal-estar a procedimentos arriscados e
desnecessários. Um exemplo é o do câncer de mama, de cada 1000 mulheres
que fazem a mamografia anualmente dos 40 aos 50 anos, uma terá um câncer
identificado (mas não necessariamente curado) e outras 20 retirarão a
mama ou parte dela sem necessidade.
Por isso, respeitadas instituições de saúde como o americano United
States Preventive Service Task Force (USPSTF) ou o britânico United
Kingdom National Screening Comitte recomendam a realização da mamografia
somente a partir dos 50 anos de 2 em 2 anos (à exceção daquelas
mulheres com história familiar de primeiro grau, ou seja, câncer de mama
em mãe ou irmã antes dos 50 anos).
Para esses institutos internacionais e também para o Instituto do Câncer
brasileiro (INCA) não se deve também recomendar rotineiramente aos
homens acima de 40 anos a realização do check-up da próstata. Como o
câncer de próstata costuma surgir em idades mais avançadas e progride
lentamente, sabe-se que a grande maioria dos homens com câncer morreria
de outras causas sem jamais ter tido qualquer sintoma prostático. Ao se
fazer o check-up anual muitos homens serão submetidos a exames e a
cirurgias, frequentemente com sérias consequências indesejadas.
brasileiro (INCA) não se deve também recomendar rotineiramente aos
homens acima de 40 anos a realização do check-up da próstata. Como o
câncer de próstata costuma surgir em idades mais avançadas e progride
lentamente, sabe-se que a grande maioria dos homens com câncer morreria
de outras causas sem jamais ter tido qualquer sintoma prostático. Ao se
fazer o check-up anual muitos homens serão submetidos a exames e a
cirurgias, frequentemente com sérias consequências indesejadas.
Portanto, o ditado “melhor não mexer no que está quieto” tem sim sua
razão em relação a uma série de problemas para os quais a medicina não
tem uma resposta e em que um exame antecipado pode trazer mais prejuízos
do que benefícios. E o famoso “melhor prevenir do que remediar” é um
conselho muito sábio, mas não deveríamos entender como prevenção o
simples fato de fazer exames médicos anuais.
A melhor forma de prevenir infartos do coração e derrames cerebrais,
por exemplo, é ter uma alimentação saudável, com pouco sal e rica em
fibras, e fazer atividade física regular. Sabe qual uma maneira simples
de prevenir várias doenças e melhorar sua vida e de sua comunidade? Use
menos o carro!
razão em relação a uma série de problemas para os quais a medicina não
tem uma resposta e em que um exame antecipado pode trazer mais prejuízos
do que benefícios. E o famoso “melhor prevenir do que remediar” é um
conselho muito sábio, mas não deveríamos entender como prevenção o
simples fato de fazer exames médicos anuais.
A melhor forma de prevenir infartos do coração e derrames cerebrais,
por exemplo, é ter uma alimentação saudável, com pouco sal e rica em
fibras, e fazer atividade física regular. Sabe qual uma maneira simples
de prevenir várias doenças e melhorar sua vida e de sua comunidade? Use
menos o carro!
Paulo Poli Neto
Médico de Família e Comunidade
Associação Catarinense de Medicina de Família e Comunidade
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